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Filipe Margarido[1]
Saúde Mental é um conceito usado para descrever a qualidade de vida de uma pessoa ou de uma comunidade. Esse conceito é importante para combater os diversos estigmas existentes dentro da psicologia e da psiquiatria sobre o transtorno mental.
Esse termo foi celebrado pela primeira vez em 1992. Ele foi desenvolvido para a conscientização da saúde mental e também para combater o estigma da doença mental. Houve apoio de diversas entidades públicas, sobretudo da Organização Mundial da Saúde – OMS. E desde então conta com a participação de mais de 150 países.
Segundo dados da ONU, cerca de 85% da população mundial sofre de falta de saúde mental. E isso é um gatilho para o surgimento de diversos tipos de adoecimento mental, tais como ansiedade, depressão, dependência química, etc.
Segundo a OMS, 20% das crianças sofrem de algum tipo de transtorno mental. E cerca de 50% dos transtornos mentais tem início antes dos 14 anos. Ou seja, diante disso, observamos uma vulnerabilidade da criança e do adolescente em relação ao seu desenvolvimento.
A saúde mental envolve diversos temas tais como:
• Prevenção do suicídio
• Saúde mental no trabalho
• Primeiros socorros psicológicos
• Políticas públicas de saúde
• Saúde mental dos idosos e das crianças;
• Vivendo com a esquizofrenia
• Saúde mental e doenças crônicas
• Instituições de Saúde Mental
• Transtornos emocionais e comportamentais em crianças e adolescentes;
• Uso de psicoativos
• Efeitos do trauma e da violência psicológica;
• Saúde mental e direitos humanos
• Saúde mental, sexualidade e gênero
• Luta Antimanicomial
Embora a saúde mental esteja se tornando uma área consolidada dentro da saúde pública ainda há muito para se desenvolver. Ainda há muito preconceito e falta de compreensão sobre esse tema na população em geral, principalmente contra pacientes severamente adoecidos.
A saúde mental ainda não tem tanto reconhecimento como nas demais áreas da saúde. Talvez isso ocorra pelo preconceito, pela falta de conhecimento, pela ignorância da população de modo geral.
Há uma “História da Loucura”, como diria Foucault, que todo doente mental acaba não tendo espaço na sociedade, principalmente numa sociedade de consumo. Historicamente, a doença mental ocupa um não-espaço, uma total exclusão.
A saúde mental não vista como tão importante quanto a saúde do corpo. E ainda mais que vivemos num mundo em que a invisibilidade social se torna a regra das relações.
Diante disso todos os profissionais da saúde devem estar atentos com todas essas questões biológicas, históricas, sociais, bioquímicas, médicas, psicológicas, etc.
Profissionais da saúde devem trabalhar com critérios diagnósticos bem definidos para que não haja banalização dos transtornos mentais e nem do tratamento.
Todos os profissionais da saúde precisam incentivar esse diálogo nos mais diversos contextos. Devemos ensinar sobre a natureza da mente, dos sentimentos e dos pensamentos; estimular hábitos saudáveis; combater os estigmas; compreender o real impacto da sociedade na formação de transtornos mentais.
Para desenvolvermos saúde mental no nosso dia a dia todos nós devemos nos flexibilizar para compreender a amplitude da condição. E também compreender a amplitude da vulnerabilidade humana.
[1] Professor de Psicologia e Filosofia. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. E-mail filipemargarido@hotmail.com
A imaginação é uma faculdade mental que só pode ser bem utilizada quando há a saúde integral
Seu cérebro trabalha ao seu favor, porém ele não escolhe o que pensar, isso quem faz somos nós
Usar toda nossa capacidade também depende do ambiente interno, procure formas terapêuticas de se cuidar
As habilidades cognitivas são essenciais para o convívio social, se bem desenvolvidas podem facilitar ao bem-estar
Filipe Margarido[1]
A depressão é um transtorno mental que pode afetar qualquer pessoa e em qualquer momento de sua vida. Não existe uma causa específica para o surgimento da depressão, ela é multifatorial.
Basta que um gatilho seja ativado em qualquer área, seja no relacionamento, na vida familiar, no trabalho, na escola, etc. para que se inicie um processo de depressão.
A depressão afeta a forma como a pessoa vê a si mesmo, a forma como cada um pensa, age e como lida com as pessoas ao seu redor, o modo como ela come, dorme, acorda, trabalha, estuda, etc.
A pessoa que é acometida pela depressão tem fortes sentimentos de culpa, desesperança, pessimismo e também uma autocrítica muito elevada.
A depressão também pode afetar a libido, causando falta de energia para relações afetivas, sociais, familiares, etc.
Embora a depressão seja um transtorno comum, ela também é relativamente grave. É umas das doenças mais incapacitantes atualmente.
Estima-se que a depressão afeta 10,9% da população somente no Brasil. Em outros países esse número pode chegar a 18% da população. E esses números tem aumentado ao redor do mundo.
Desse modo a depressão já é considerada um problema de saúde pública.
E quais são os sintomas da depressão?
A depressão caracteriza-se por uma série de sinais e sintomas. Por exemplo:
• Falta de vontade para realizar atividades que davam prazer
• Tristeza profunda
• Perda de interesse ou prazer pela vida
• Agitação
• Diminuição da concentração
• Alteração do apetite
• Perda ou ganho excessivo de peso
• Humor irritável
• Explosões de raiva recorrentes
• Diminuição da energia ou fadiga
• Sentir-se inquieto ou ter problemas para ficar sentado
• Dificuldade de concentração
• Dificuldade para dormir, despertar de manhã cedo ou dormir demais
Todos esses fatores devem serem analisados criteriosamente porque para cada pessoa a depressão se manifestam de um modo muito específico.
Alguns sintomas da depressão podem surgir logo após alguma experiência traumática. Já em outros casos, a depressão pode surgir sem que haja alguma relação com um fato traumático. Por exemplo, ela pode ser desencadeada por um estresse diário. Noutras vezes ela surge de forma silenciosa onde a pessoa não percebe que está entrando num processo depressivo.
Para ser diagnosticado com depressão a pessoa deve apresentar os sintomas pelo menos há duas semanas. E o nível de comprometimento e os sintomas apresentados podem alterar de acordo com o grau da doença.
Existem pelo menos 3 subcategorias dentro da depressão. Existe a depressão leve, a depressão moderada e a depressão grave.
Dentro dos transtornos depressivos também se encontra os subtipos: depressão distímica; depressão atípica; a depressão melancólica ou endógena; a depressão psicótica; o estupor depressivo; depressão ansiosa; a depressão maior; etc.
É muito importante que os profissionais da saúde saibam diferenciar todos esses subtipos para que não incorra em erros no tratamento.
Existem fatores de risco para a depressão?
Sim, existem. E muitos. A adolescência, por exemplo, costuma ser um período muito crítico. As mudanças corporais e hormonais, a pressão escolar e familiar, as perdas afetivas, questões sociais, etc. tudo isso pode contribuir para o surgimento ou agravamento do transtorno.
Também o uso de substâncias psicoativas pode atuarem para a instauração não somente da depressão como também diversos outros transtornos mentais.
Os fatores de risco para a depressão também incluem:
• Fatores genéticos. A depressão pode ter maior prevalência em alguns grupos familiares. Por exemplos, estudos com gêmeos idênticos apontam que se um deles tem a doença, o outro tem a possibilidade de apresenta-la em algum momento da vida.
• Fatores bioquímicos. Todo nosso corpo, em nosso cérebro e mesmo em nossas emoções, pode ocorrer fenômenos bioquímicos que podem interferir o surgimento do transtorno.
• Aspectos da personalidade. Fatores como extroversão, introversão, impulsividade, etc. podem contribuir para a instauração de um quadro de depressão.
• Fatores ambientais. Nossa sociedade tem um grande potencial para a o desenvolvimento de diversos transtornos mentais. Por exemplo, a violência doméstica, o abuso sexual e a miséria podem tornar uma pessoa mais suscetível a depressão.
• Comorbidades em saúde. Eventualmente, quando o paciente tem outras doenças, por exemplo, uma doença degenerativa ou uma doença terminal pode contribuir para o surgimento de um quadro depressivo.
• Comorbidades psiquiátricas. Quando algum paciente tem algum outro transtorno de saúde mental também pode contribuir para a o surgimento ou agravamento dos quadros depressivos, por exemplo, a bipolaridade, a ansiedade, etc.
Outros Fatores de Risco Incluem:
• Estresse ou ansiedade crônicos
• Disfunções hormonais
• Obesidade ou sedentarismo
• Uso de drogas
• Traumas físicos ou psicológicos
• Traumas psicológicos
Depressão tem cura?
Sim, a depressão tem cura. Cerca de 80 ou 90% dos casos tratados apresentam uma melhora significativa do quadro.
O método mais conhecido e eficaz que conhecemos para o tratamento da depressão ainda é a boa e velha psicoterapia.
Há diversas outras terapias. Por exemplo, há pacientes que se beneficiam de terapias médicas como a eletroconvulsoterapia (ECT), há pacientes que se beneficiam de atividades físicas aeróbicas; há a estimulação magnética cerebral, há a meditação, a acupuntura, nutrição e micro nutrientes, práticas em grupos de caridade, etc.
E a Medicalização Funciona?
Sim, funciona. Quando bem alinhados à boa prática profissional. Em alguns casos de depressão alguns pacientes podem precisar de uma intervenção medicamentosa. E quando bem aplicado, a medicação pode tornar-se num coadjuvante no tratamento da depressão. Assim, a medicação pode ser empregada como uma estratégia no tratamento.
No entanto é preciso sempre lembrar que antidepressivo sem psicoterapia não alcança o efeito esperado.
O que é o Diagnóstico Diferencial?
Como a depressão é sempre multifatorial, devemos conhecer o diagnóstico diferencial. Ou seja, devemos diferencia-la de outros fatores, por exemplo, diferenciá-la de uma tristeza, de um processo de luto, etc.
Por isso é sempre recomendável que o paciente faça exames de sangue regulares para que seja descartado a hipótese de um problema de saúde. Por exemplo, um distúrbio da tireoide poderia assemelhar-se a um processo depressivo.
Depressão é tristeza?
Não. Depressão não é tristeza. Tristeza é uma reação comum, a tristeza tem um começo, um meio e um fim. A depressão não obedece a esses padrões. Depressão é mais grave do que tristeza. O indivíduo que sofre de depressão precisa de apoio e de assistência contínua.
A depressão não ocorre de forma repentina, muitas vezes a pessoa não percebe que está desenvolvendo um estado depressivo
Assim como todas as doenças, a depressão quanto mais cedo se diagnostica, melhor se torna o prognóstico.
Depressão não é falta de Deus, também não é frescura, nem tristeza. Depressão é um transtorno que pode se desenvolver em qualquer pessoa. Qualquer Pessoa.
A Sociedade Influencia?
Sim, a sociedade influencia. A sociedade tem muita habilidade de produzir formas mais complexas de adoecimento mental. A sociedade e o mundo na contemporaneidade nos levam a trabalhar e a viver praticamente no limite. E isso pra alguns pode ser bom e para outros não.
Enfim. O melhor que podemos fazer nos casos de depressão é procurar atendimento e poio psicológico. Buscar ajuda especializada também é buscar autoconhecimento, também é buscar a sabedoria.
Cultivar a si mesmo, buscar a sabedoria, buscar o novo de si. Refazer-se. Reinventar-se. Criar algo, buscar o novo de si, o novo do mundo e o novo da vida. Talvez seja esse um dos caminhos para a cura.
[1] Professor de Psicologia e Filosofia. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. E-mail filipemargarido@hotmail.com
Depressão não é frescura, pode acometer vários membros da família
Quando existe algum trauma, tendemos à nos isolar, o depressivo dá sinais que não está bem
A sensação de se sentir um extra terrestre é um sintoma presente em muitas pessoas que são depressivas
Existem pessoas que não expressam a tristeza de forma saudável, e assim somatizam as emocões
O que é a Ansieda
Filipe Margarido[1]
A ansiedade é um transtorno do humor. As pessoas que sofrem de ansiedade, sofrem de um forte sentimento de preocupação, um incômodo geralmente relacionado ao futuro.
O ansioso sofre antecipadamente por fenômenos relacionados ao tempo vindouro, sofre por uma sensação de incerteza permanente.
A experiência da ansiedade geralmente sempre apresenta esses dois componentes:
1 - Afeta o pensamento; afeta os sentimentos e as emoções, causando nervosismo, episódios de confusão; distorção da percepção; distorção dos significados dos acontecimentos, etc.
2 - E o outro componente da ansiedade são os sintomas físicos. O corpo é sempre afetado pela experiência de ansiedade.
Alguns dos Sintomas Físicos da Ansiedade São:
•Taquicardia
• Sudorese
• Pele fria e pálida
• Tensão muscular
• Sensação de fadiga
• Tremores pelo corpo
• Boca seca e amarga
• Desconforto abdominal e Náusea
• Cansaço
• Respiração acelerada
Todas essas alterações causadas pela ansiedade podem interferir nos processos do pensamento, do aprendizado; nos processos da memória. Pode causar diminuição da atenção e da concentração; comprometer a capacidade de fazer associações; etc.
A ansiedade não se trata de um medo comum. Enquanto no medo há a presença de um objeto, a ansiedade não tem um objeto específico, a ansiedade não tem uma causa específica.
Na ansiedade a pessoa percebe o futuro como ameaçador, sente uma inquietação e uma preocupação constante.
Assim como na depressão, a causa da ansiedade também são multifatoriais. Podendo ser resultado do ambiente e ou de fatores genéticos.
Como Identificar a Ansiedade?
A ansiedade se caracteriza por um quadro de pensamentos acelerados, preocupação constante; diminuição na qualidade do sono, da concentração, da atenção, dos estudos e do trabalho, sensação de um perigo iminente.
Com a aceleração dos pensamentos, eles podem se tornar desorganizados. Alguns pacientes também apresentam pensamentos obsessivos ao longo do dia.
Geralmente as pessoas ansiosas reconhecem o seu quadro de ansioso. As alterações corporais sempre indicam quando o gatilho da ansiedade foi ativado.
O gatilho da ansiedade é ativado quando o cérebro percebe uma ameaça real ou potencial e libera adrenalina e cortisol. E isso faz disparar os instintos mais ancestrais tais como o de luta e de fuga.
Existem Graus de Ansiedade?
Sim. A ansiedade pode ser dividida em graus de intensidade. Há a ansiedade leve, moderada e grave. E são vários os fatores utilizados para verificar essa intensidade. Por exemplo, o nível de sofrimento que ela traz ao paciente; há quanto tempo o paciente luta contra isso; quais os tratamentos que já tentou; resistência do paciente à proposta terapêutica.
Tratamento
O tratamento da ansiedade é realizado através de diversos modos de intervenção. E o método mais assertivo que temos ainda é a psicoterapia.
Diversas outras terapias também podem ser empregadas, por exemplo:
• Mudança no estilo de vida
• Atividade física regular
• Neuromodulação
• Estimulação magnética cerebral
• Meditação
• Nutrição. Probióticos/Pré-bióticos e Micro Nutrientes
• Fitoterápicos
• Medicalização
A Medicação Funciona?
Sim, funciona. A medicação quando empregada com uma estratégia no tratamento, quando o paciente é assistido por médicos e psicólogos, tendem a dar bons resultados.
Assim como na depressão, no caso da ansiedade, a medicação sem o apoio psicológico não alcança o efeito esperado. O remédio sozinho não trata, mas quando bem empregado ele pode facilitar a aprendizagem do paciente
Quando não tratada, a ansiedade pode evoluir para um Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Nesse estado, a pessoa é prejudicada em todas as áreas da sua vida e chega a sentir-se impossibilitada de cuidar de si próprio. Nesses casos faz-se necessário uma intervenção mais rigorosa.
A Ansiedade Generalizada também pode evoluir para uma fobia social, agorafobia, para uma fobia específica, para um transtorno obsessivo compulsivo (TOC) para um transtorno de pânico, transtorno depressivo, transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.
A meditação tem se mostrado muito eficiente como tratamento complementar nos transtornos de ansiedade. Diversos pacientes se beneficiam com esse método alternativo de tratamento.
(Leia também: “Sobre a Meditação”. Leia também “10 Questões Fundamentais da Ansiedade)
Tanto na ansiedade quanto na depressão percebemos uma forte relação com o tempo. Por exemplo, na depressão o indivíduo sofre por eventos passados, enquanto na ansiedade o indivíduo sofre por eventos futuros. E a meditação tem a condição de colocar em “suspensão” o pensamento sobre o tempo.
Importante ressaltar que a meditação funciona como um tratamento alternativo ao tratamento tradicional. Em alguns casos mais graves o paciente é refratário a meditação. Mas quanto mais esforço empregarmos para o tratamento da ansiedade, melhor será o seu prognóstico.
[1] Professor de Psicologia e Filosofia. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. E-mail filipemargarido@hotmail.com
Pensamentos distorcidos também podem ser tratados durante a terapia
Roer unhas é um sintoma de ansiedade
Isolamento
Distúrbios alimentares devido a ansiedae
Filipe Barbosa Margarido[1]
Tatiana Ribeiro[2]
Flavia Aparecida Lemes da Silva[3]
Iara Luana Silva Lima [4]
Esse trabalho pretender explorar sobre a temática do livre arbítrio e sua relevância para as neurociências e para as psicologias. Discorreremos sobre os dilemas e paradoxos existentes entre o livre-arbítrio de um lado e o determinismo psíquico de outro. Um dos pontos centrais desse trabalho é demonstrar que tanto a ideia do livre arbítrio, quanto a ideia de um determinismo, podem ser postas em questão. Desenvolveremos essa investigação utilizando-se tanto dos conhecimentos filosóficos quanto a partir dos experimentos mais comuns em neurociências. Ressaltaremos para a importância de conhecer muito bem a amplitude de compreensão que há entre esses dois campos que são complementares um ao outro.
PALAVRAS-CHAVES: Livre Arbítrio; Determinismo; Neurociências; Psicologia; Filosofia.
O livre arbítrio se define como uma condição na qual cada indivíduo possui liberdade e autonomia para decidir sobre suas ações. Nessa proposta, cada indivíduo tem condições de fazer suas escolhas e controlar suas atitudes e pensamentos, segundo seu próprio desejo, suas crenças e valores. Deste modo, os resultados das nossas decisões são subordinados somente a vontade consciente de cada um, sendo um direito cada escolha feita.
Ao longo do tempo, diferentes autores têm defendido a concepção de que a sociedade se assenta na convicção do livre-arbítrio. Alguns pesquisadores afirmam, inclusive, que perder a crença no livre arbítrio poderia ser algo danoso, uma vez que a maioria das leis partem do pressuposto que escolhemos livremente entre aquilo que é correto e aquilo que é errado – também conhecido como liberdade moral. Atualmente, o livre-arbítrio permeia a cultura e está na base da crença de que qualquer um pode fazer algo sobre si mesmo, independente de quaisquer circunstâncias.
A crença no livre arbítrio também é difundida entre as crenças religiosas, nas quais o homem deve escolher entre o bem e o mal e tem liberdade para fazê-lo. Por outro lado, as neurociências têm se expandido e, cada vez mais, tem se interessado em explorar esse tema a partir de métodos experimentais.
O professor do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago, Jerry A. Coyne, explica que a crença no livre arbítrio é, na verdade, uma ilusão muito convincente, a qual as pessoas se recusam totalmente a acreditar que não seja algo real. Para Coyve, todas as ações já estão pré-determinadas. Por exemplo, o momento que estamos lendo esse texto, ou se estamos tomando café ou água, já foram decididos muito antes de sua execução, o que, segundo Coyne, pode ser verificado em experimentos que citaremos mais adiante. Antes disso, vamos retroceder um pouco na discussão.
Quando Charles Robert Darwin (1809-1882) publicou a Origem das Espécies, um outro cientista, Sir Francis (1822-1911), afirmou também que se nós evoluímos da forma como Darwin explicou, então nossas faculdades mentais, tais como a consciência e a inteligência, também evoluíram. São características hereditárias utilizadas para tomar decisões, seguindo a teoria da evolução. Para Sir Francis, a capacidade de escolher o destino não é livre, mas sempre dependente da herança biológica e genética.
Para aquiescer essa discussão, lembremos também que nas últimas décadas, diversas investigações com scanners cerebrais e exames de neuroimagem nos permitiram explorar o sistema neurológico e monitorar complexas redes de neurônios em pleno funcionamento. Assim, pudemos ver o que acontece no cérebro durante o momento da tomada de uma decisão.
A partir dessas investigações em neurociências, surgiu a hipótese que talvez o disparo de neurônios determinasse, não apenas alguns de nossos pensamentos, mas todos estes. Dessa forma, não somente os pensamentos, como também decisões, memórias e sonhos já estariam pré-determinados biologicamente e geneticamente. Segundo esse preceito, acredita-se que, mesmo antes de uma questão chegar à consciência, já teríamos elaborado qual decisão tomaríamos diante dela. Essa proposição, também chamada de determinismo, ou determinismo psíquico, pareceu ser contrário ao conceito de livre arbítrio que até então acreditávamos possuir, gerando uma tensão entre filósofos e neurocientistas.
Afim de investigar mais detalhadamente a atividade dos neurônios relacionados aos pensamentos, o psicólogo da Universidade da Califórnia, Benjamin Libet, realizou um experimento na década de 1980. Nesse experimento, Libet demostrou que ocorre um acúmulo de sinais elétricos em regiões corticais motoras algum tempo antes da tomada de decisão no sentido de se mover diante de uma escolha que lhe fosse apresentado.
No experimento de Libet, os voluntários foram equipados com um capacete com eletrodos e foram orientados a mover um dedo na mão direita ou um dedo na mão esquerda sem critérios pré-estabelecidos. Nesse experimento, os participantes foram instruídos a escolher aleatoriamente entre as imagens que surgiam diante deles num monitor. O cientista pediu que os voluntários falassem exatamente o momento em que eles tomavam a decisão de movimentar o dedo baseados em escolha aleatória de imagens que passavam diante deles num monitor. O resultado foi o seguinte: no momento exato em que os voluntários relatavam ser o momento da decisão de mover o dedo direito ou esquerdo, já havia ocorrido um acúmulo de impulsos elétricos e sanguíneos na região cerebral correspondente ao do movimento indicando. Ou seja, a decisão parecia ter sido tomada antes mesmo do sujeito ter falado ou escolhido sobre determinada imagem. Este resultado sugeriu que, de alguma forma, os sinais no cérebro já estavam a caminho antes da experiência concreta de realizar tal escolha ou mesmo de falar sobre esta. O experimento mostrou que, quando se escolhe, o cérebro já tomou a decisão até 7 segundos antes da execução.
Diante dessas pesquisas, parece que nossas ações são completamente passíveis de previsão. Para as neurociências, quanto mais pudermos compreender a arquitetura do cérebro, mais poderíamos (ao menos teoricamente) prever as respostas de um estímulo específico com uma altíssima probabilidade de precisão. Ao mesmo tempo, do ponto de vista prático, sabemos da improbabilidade de prever as escolhas de todos os indivíduos com grande ou total precisão. Isso é algo improvável de ser alcançado, uma vez que, mesmo que se conheça a arquitetura padrão de um cérebro, as diferentes individuais dificultam um mapeamento completo, de modo que o resultado varia para cada indivíduo.
Devemos ponderar com cautela sobre esses experimentos, visto que nosso cérebro vai muito além de apenas apertar um simples botão ou escolher uma imagem aleatoriamente. Devemos estar atentos para o fato de o cérebro ser uma rede complexa, cujas análises feitas são passíveis de falhas, tanto de aplicação quanto de interpretação. Isto posto, devemos sempre considerar a possibilidade de falhas metodológicas do estudo. Assim como, os limites mesmos da ciência. Para a maioria desse grupo de cientistas, todas as ações são um produto da genética e resultado do ambiente. Isso implica em uma exclusão do livre arbítrio, tal como apresentado. Desse modo, a concepção de que existem escolhas absolutamente livres seria uma ilusão causada pelo nosso próprio narcisismo.
A disseminação do ceticismo científica sobre a existência do livre-arbítrio tem se ampliado cada vez mais. Entretanto, pesquisadores defender que, se esse ceticismo for aceito, as pessoas poderiam se tornar moralmente irresponsáveis. Para Katheleen Vohs, Phd em Psicologia e Ciências do Cérebro no Dartmouth College em Hanover nos EUA, indivíduos levados a crer menos no livre arbítrio podem estar mais propensos a se comportar de forma imoral. Para a autora, quando as pessoas deixam de acreditar que são livres, deixam de se sentir culpadas por suas ações e pode agir de maneira pouco responsável. Argumenta ainda que a crença no livre arbítrio acabou por ser um melhor produto para um desempenho eficaz em sociedade.
Já para o filósofo Saul Smilansky, da Universidade de Haifa, em Israel, se todos aceitarem que não há vontade própria, ninguém mais teria culpa por suas ações, uma vez que não podiam agir de outro modo devido ao seu cérebro já ter tomado a decisão segundos antes. Para o neurocientista e filósofo Sam Harris, perder a crença no Livre-Arbítrio enfraqueceria permanentemente a lógica de se odiar outra pessoa, pois não seria o indivíduo que escolheu odiar, mas sim o seu cérebro.
Avançando, citemos um famoso caso clínico das neurociências nas últimas décadas. No ano de 2000, a revista New Scientist divulgou o caso de um professor americano de 40 anos, casado, que, abruptamente, tornou-se pedófilo. Ele havia se tornado obcecado por sexo e começou a prostituir crianças. Sua esposa o expulsou de casa após descobrir que ele estava molestando crianças. Ele não possuía antecedentes criminais e não havia histórico de abusos ou de problemas sexuais. Foi internado em uma clínica para tratamento da pedofilia e passou a tomar medicamentos para esse transtorno em específico. Adiante, foi expulso do programa de reabilitação por investir sexualmente nos demais participantes do grupo. Logo depois, foi sentenciado à prisão. Nessa mesma época, começou a queixar-se a de dor de cabeça e dizia que estava com medo de estuprar uma mulher. Foi então levado para um departamento de psiquiatria. Durante os atendimentos médicos, foi constatado que estava com dificuldade de se equilibrar e estava começando a urinar e defecar na roupa sem o menor constrangimento. Depois de um exame de ressonância magnética, foi constatado a existência de um tumor no lobo direito do cérebro, parte que, segundo as neurociências, é responsável pelo julgamento moral, controle dos impulsos e comportamentos sociais. Após um procedimento cirúrgico o tumor foi retirado e seu comportamento se normalizou. Um ano após esse ocorrido, havia secretamente voltado a ter comportamentos sexuais exacerbados, como pedofilia, pornografia, etc., e havia novamente se queixado de dores de cabeça. Foi constatado então uma recidiva do câncer que havia se desenvolvido um ano antes. Mais uma vez, tumor foi removido e seu comportamento melhorou após o procedimento.
Tanto cientistas quanto filósofos analisam este caso e se questionam até que ponto seria possível afirmar que as alterações biológicas e psicológicas ocorridas com este paciente ou em casos como o dele devessem ao surgimento de um tumor nessa região do cérebro. Aprofundando nesse caso, refazemos a mesma pergunta: Esse homem tinha opção de não apresentar esse comportamento inapropriado? Ou melhor: possuía ele livre-arbítrio sobre aquelas ações de pedofilia? Até que ponto ele pode ser considerado imputável ou inimputável acerca de suas ações? Ou num grau mais extremo: Em que medida psicopatas e assassinos poderiam serem vistos como vítimas de sua própria neurobiologia?
O determinismo psíquico é uma corrente de pensamento que defende de que as decisões e escolhas humanas não acontecem de acordo com o livre-arbítrio. Segundo o determinismo, tudo estaria pré-determinado e limitado às leis imutáveis. Dito de outro modo, todos os fatos e ações humanas são condicionadas pela natureza, e a “liberdade de escolha” é uma mera ilusão. Esses conceitos parecem entrar em conflito, pois não poderíamos ser verdadeiramente “livres” se nossas escolhas estão determinadas por acontecimentos e circunstâncias anteriores.
Mas questionamos: qual é a definição de liberdade que temos ou que pensamos ter? É discutível do ponto de vista filosófico se o homem teria realmente liberdade em sentido absoluto, dados os condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais que nos limitam?
Para achar uma proposta intermediária nessa discussão, lembremos que o famoso filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) considera a liberdade uma ação em conformidade com a Lei Moral. De acordo com a filosofia Kantiana, existe, em primeiro lugar, uma Lei Moral, e posteriormente, nossa escolha de segui-la ou não. A liberdade significaria, desse modo, numa responsabilidade do indivíduo por seus próprios atos. Para Kant, esse é o modo de viver a liberdade em nossos atos. Isto posto, parece resolvido o problema.
Já para o filósofo Bruce Waller, da Universidade de Youngstown, não é relevante para o livre-arbítrio ser sustentados por uma cadeia causal que envia e recebe neurônios no cérebro. Para o autor, o livre-arbítrio e o determinismo não deveriam ser vistos como uma contradição, mas como uma maneira diferente de compreender o assunto. No desenvolvimento de sua filosofia, surge a seguinte proposição: como ninguém escolheu seus genes ou o ambiente em que nasceu, ninguém deveria ter responsabilidade final por quem ele é ou o que faz? Poderia isso ser aceitável?
Essa concepção de livre arbítrio é um tópico de grandes dilemas e entraves, pois, do mesmo modo que alguns cientistas afirmariam não existir o livre-arbítrio por conta de ser possível prever, com alguma antecipação os nossos atos. Diante disso, devemos considerar uma questão bem simples: o cérebro é parte do que somos. Somos igualmente responsáveis pelo nosso cérebro tanto quanto com as nossas ações. Nossos cérebros, ações ou pensamentos são parte desse todo que somos. Afirmamos aqui, que toda separação existente entre mente e cérebro, ou entre pensamento e ação, decorrem de uma necessidade metodológica das ciências, mas não de uma demanda prática.
Poderíamos também propor aqui que: se o cérebro tomou a decisão previamente, isso se deve ao fato de conhecer seu próprio corpo. Talvez por isso, o cérebro possa ter uma via de acesso mais rápido às nossas memórias para assim enviar sinais elétricos antes da tomada da ação, pois o cérebro já sabia a escolha “certa” antes mesmos de apertarmos o botão.
Lembremos também que mesmo que a concepção de “livre para escolher” possa ser falsa, ela ainda é uma das melhores ideias que surgiram até hoje. De alguma forma, continuamos a acreditar que possuímos liberdade de escolha e isso parece ser importante para toda nossa vida em sociedade. Ainda que essa liberdade que falamos seja ainda uma liberdade limitada e condicionada. Sendo assim, livre arbítrio ou determinismo psíquico não são teorias opostas, mas complementares. Essas duas teorias, descrevem, o nosso comportamento em diferentes níveis de investigação e compreensão.
Concluímos que essa discussão remonta o clássico dilema da dualidade entre corpo e mente e entre pensar e existir. Essa dualidade não foi necessariamente uma dualidade inaugurada por René Descartes (1596-1650) como muitos atribuem. Essa dualidade surgiu por necessidade metodológica. É somente uma escada para o próximo passo. Decorre então que, grande parte da população e também de pesquisadores, ainda acredita que o cerebral é uma parte separada do ser humano.
Embora as neurociências identifiquem o comportamento a partir de disparos neuronais, as ciências psicológicas, no geral, trabalham não somente com as vertentes biológicas do ser humano, mas incluem também as vertentes sociais e ainda as causas inconscientes que, em alguma medida, determinam as nossas ações.
Nos interstícios entre determinismo e livre-arbítrio, não nos posicionamos categoricamente em nenhum dos lados, mas defender uma liberdade condicionada parece ser o melhor que nos convém. Toda a questão levantada é, em última instância, umas das formas de descobrir o alcance da capacidade de escolha e quais seriam as cercanias e as vicissitudes que permeiam a consciência.
GLEISER, Marcelo; “A escolha é sua: o destino do Livre-Arbítrio”; Disponível em: <https://universoracionalista.org/escolha-e-sua-o-destino-livre-arbítrio > acesso em 7 de Junho de 2018, Publicado - 11 de Abril,2017 no National Public radio.
CAVE, Stephen; “Não existe algo como livre-arbítrio”; Disponível em: <https://universoracionalista.org/nao-existe-algo-como-o-livre-arbitrio> acesso em 8 de junho de 2018, Publicado no The Atlantic- 18 de maio, 2016.
GLEISER, Marcelo; “O problema do universo relógio” Disponível em: <https://universoracionalista.org/o-problema-universo-relogio> acesso em 9 de junho de 2018, Publicado no National Public radio-10 de Abril,2017.
OBAMA, Barack Frase: “os valores americanos estão enraizados na base otimista acerca da vida e [com] uma fé no livre-arbítrio”. Disponível em: <https://universoracionalista.org/nao-existe-algo-como-o-livre-arbitrio> acesso em 10 de junho de 2018, Publicado no The Audacity of Hope 24 dezembro de 2006.
GARATTONI, Bruno, KIST, Cristine “Descubra as mentiras que seu cérebro conta para você” Disponível em: < https://super.abril.com.br/ciencia/descubra-as-mentiras-que-o-seu-cerebro-conta-para-voce> acesso em:11 de junho de 2018, Publicado no Super. Abril 24 de junho 2012.
NOGUEIRA, Salvador “A ciência comprova: Você é escravo do seu cérebro” Disponível em: <https://super.abril.com.br/saude/o-livre-arbitrio-nao-existe> acesso em:12 de junho de 2018, Publicado no Super. Abril em 31 de agosto de 2008.
FACIOLI, Adriano, “Existe Livre-Arbítrio” Disponível em: <inquilinosdoalem.blogspot.com/2011/05/existe-livre-arbitrio.html> acesso em: 20 de junho de 2018, Publicado no Inquilinos do Além em 13 de maio de 2011.
[1] Mestre em Psicologia Clínica pela USP. Graduado em Psicologia pela UNIA. Graduado em Filosofia pela UMESP. Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade AJES. E-mail filipemargarido@hotmail.com
[2] Graduanda em Psicologia pela faculdade AJES. E-mail flavialauraeva@hotmail.com
[3] Graduanda em Psicologia pela faculdade AJES. E-mail flavialauraeva@hotmail.com
[4] Graduanda em Psicologia pela faculdade AJES. E-mail iaraluanasl21@gmail.com
Filipe Margarido[1]
Resumo
Este trabalho procura mostrar, de forma resumida, sobre a história da filosofia grega, o contexto de seu nascimento e sua importância para todas as ciências. Para tanto, comentaremos sobre o conceito de mito e mitologia e o contexto histórico, social e cultural da Grécia. Também tratemos alguns conceitos filosóficos que marcaram a história do pensamento e da filosofia ocidental. Por fim comentaremos sobre a importância da filosofia para os nossos dias.
Palavras-Chave: Filosofia; História; Ciência; Mitologia; Política.
A história da filosofia refere-se aos primeiros filósofos que desenvolveram o que atualmente chamamos de filosofia. E estuda-la é importante porque ela analisa como ocorre a sucessão das ideias e dos pensamentos através dos tempos. A filosofia procura explicar como as ideias e os pensamentos produzem a nossa realidade cotidiana.
Uma compreensão razoável do que significa filosofia também implica numa compreensão razoável da história da filosofia. A palavra filosofia é uma palavra grega. Ela é composta por duas palavras: philo e sophia. Philo deriva da palavra philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. E Sophia significa sabedoria e dela vem a palavra sophos, ou, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo é aquele que ama a sabedoria e que tem amizade pelo saber e deseja saber (Abbagnano, 2007).
É atribuído filósofo grego Pitágoras a invenção da palavra filosofia. Segundo os historiadores, ele teria afirmado que a sabedoria plena pertence somente aos deuses, mas que os homens poderiam desejá-la ou amá-la, tornando-se assim filósofos.
A Filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade e também insatisfeitos com as explicações que a tradição homérica e o misticismo lhes deram, começaram a fazer perguntas e buscar respostas lógicas para as questões da vida, da sabedoria e da condição humana. Eles tentaram demonstrar que o mundo, os acontecimentos, as coisas da natureza e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão, e essa razão pode ser transmitida através do logos.
Os primeiros filósofos tinham em mente questões do tipo: Por que nascemos e morremos? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes, por exemplo, o dia parece fazer nascer a noite, o inverno parece fazer surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo? O que estaria na base desses acontecimentos que ocorrem na natureza e no universo? (Chauí, 2002).
Certamente a religião, as tradições e os mitos também explicavam, cada um a seu modo, essas questões, mas suas explicações já não satisfaziam muito bem aos que interrogavam sobre as causas da mudança na natureza, as causas da permanência, as causas das repetições dos eventos, da desaparição e do ressurgimento dos seres. Os mitos haviam perdido força explicativa e já não convenciam e nem satisfaziam aqueles que desejavam conhecer a verdade sobre o mundo para além dos mitos e das religiões.
Sendo assim, a filosofia “nasceu” no final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. E o primeiro filósofo teria sido Tales de Mileto. A Filosofia tinha um conteúdo a ser tratado na época de seu nascimento que era a cosmologia. Assim, a Filosofia nasceu como uma busca por um conhecimento racional da origem e da evolução do mundo e da natureza.
É bem possível encontrarmos semelhanças dos conhecimentos dos povos orientais na formação do pensamento e da tradição grega. Podemos notar tais semelhanças tanto nos mitos gregos quanto na filosofia. Porém, com o surgimento dos primeiros filósofos, estes passaram a recorrer cada vez menos nas explicações míticas para responder as questões voltadas inicialmente para a natureza.
A passagem da explicação do mundo pela mítica até uma explicação filosófica não foi repentina, mas gradual. Há sempre de se considerar a herança cultural e histórica do homem grego em relação às religiões e à mitologia. Porém, é comum encontrar em diversos filósofos pré-socrático e pós-socráticos muitas recorrências à mitologia e aos deuses, podemos notar isso com Pitágoras, Sócrates, Platão, etc. Toda educação e cultura do homem grego deve-se, direta ou indiretamente, à uma certa influência de Homero.
Para compreendermos o mito, precisamos ter em mente que os mitos não são uma realidade totalmente independente das circunstâncias, ou seja, o mito não está totalmente à parte do mundo. É preciso ter em mente que os mitos evoluem de acordo com as condições históricas e sociais de cada povo. Os mitos procuram explicar a origem do mundo, a origem das coisas, das pessoas, dos animais, das doenças, etc. Os mitos também procuram explicar sobre as origens da agricultura, as práticas de caça e pesca, as práticas da medicina, as relações de amor e ódio, procuram também explicar surgimento dos homens, das mulheres, dos animais, das plantas, etc.
Sabe-se que o termo mito muitas é vezes utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças comuns de diversas comunidades. Diversas vezes os mitos são considerados como sem fundamento ou como sem clareza científica. Muitas vezes os mitos são vistos apenas como histórias de um universo em que tudo era incomum, cheio de entidades ora iradas, ora benevolentes para com a humanidade. Fazendo um adendo, para compreendermos a natureza histórica, fictícia ou ideológica dos mitos, devemos lembrar que muitas vezes os fatos históricos podem se tornarem lendas e podendo até serem chamados de mitos tempos após.
A conceito do mito também está profundamente relacionado ao conceito de rito e de ritual (Marcondes 2001). Em diversos rituais religiosos, os mitos são encenados e tomam forma, trazendo à memória uma narrativa, uma crença ou até mesmo um acontecimento. Não somente nos rituais religiosos que os mitos ganham força, mas também são reproduzidos e reforçados na música, na dança, na escrita, na literatura de um povo, na poesia, etc. No caso da poesia, uma das pessoas que passavam os mitos adiante eram os poetas rapsodos.
A filosofia, assim como os pensamentos e as ideias de um povo, ocorre num tempo e num espaço. Não somente tempo e espaço, mas também se situam entre os acontecimentos políticos, econômicos, geográficos, etc. Citaremos aqui brevemente alguns dos acontecimentos que contribuíram para seu surgimento.
• As viagens marítimas: As viagens marítimas permitiram aos gregos descobrirem que os locais que os mitos diziam ser habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos. Assim, as viagens marítimas produziram um sentimento de desencantamento e uma desmistificação de um mundo que foi fortemente marcado pelos poetas Homero e Hesíodo. Sendo assim, os primeiros filósofos passaram a exigir uma explicação mais real sobre a origem do mundo, eles passaram a buscar explicações que os mitos já não podiam mais oferecer (Chauí, 2002).
• A invenção do calendário: O calendário foi uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, do mês, etc. A invenção do calendário permitiu verificarmos os fatos importantes que se repetem, revelando assim uma nova capacidade de abstração do tempo. Isso permitiu-nos perceber o tempo como algo natural e não necessariamente como um poder divino incompreensível para nós (Chauí, 2002).
• A invenção da moeda: Esta invenção permitiu aos gregos uma forma de troca que não se realiza mais através dos objetos trocados por semelhança, ou por escambo como era chamado, mas de uma troca feita por um cálculo de valor semelhante entre as mercadorias (Chauí, 2002).
• O desenvolvimento da vida urbana: O aumento da população nas áreas urbanas permitiu um crescimento do comércio e do artesanato, possibilitando assim desenvolvimento das técnicas de fabricação e da troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras. Com isso surgiu também a classe de comerciantes, que encontraram pontos de poder para superar o velho sistema da aristocracia. Esses comerciantes possibilitaram o desenvolvimento e o prestígio pela produção de novas mercadorias, estimulando as artes informais, as técnicas e os conhecimentos nas cidades (Chauí, 2002).
• O desenvolvimento da escrita alfabética: Assim como o surgimento do calendário e a da moeda, o desenvolvimento da escrita possibilitou um crescimento da capacidade de abstração, uma vez que a escrita alfabética, diferentemente de outras escritas, por exemplo, os hieróglifos ou dos ideogramas, a escrita alfabética propuseram que não se representasse uma imagem da coisa que está sendo dita, mas sim a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve. O desenvolvimento da escrita alfabética possibilitou também que os pensamentos dos filósofos pudessem ser transmitidos de forma não presencial. Isso pode fazer com que chegasse até nós grande parte de seus pensamentos (Chauí, 2002).
Um outro fator de grande relevância para o surgimento da filosofia certamente foi a invenção e o desenvolvimento da política. A palavra política vem do Grego πολιτικός que significa aquilo que está relacionado e o que integra a Pólis, ou, a cidade. A política refere-se a arte ou ciência da organização, da direção e da administração de nações ou dos Estados. Na democracia, a política representa a ciência e a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos. O surgimento da política introduziu aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia, por exemplo, a ideia da lei. Esta permitiu uma expressão da vontade de uma coletividade humana que pôde decidir por si mesma o que é melhor para o bem comum tais como as organizações internas da cidade. Este modelo de governo serviu de base para a Filosofia refletir sobre o aspecto legislado, regulando e ordenando as cidades-estados por meio da racionalidade e daquilo que for bem para a maioria (Marcondes, 2001).
Outro aspecto de grande relevância para o surgimento da filosofia, foi o surgimento dos espaços públicos. Este fez aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido até então pelo mito. A partir da polis isto é, a cidade política, surgiu a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público seu pensamento e poder discuti-lo com os outros. Dessa forma, o surgimento dos espaços públicos criou condições para o surgimento do discurso (logos) dando assim as bases para o desenvolvimento do pensamento filosófico (Marcondes, 2001).
O desenvolvimento da política estimulou um pensamento e um discurso que não eram mais formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuravam ser públicos, ensinados, transmitidos e discutidos. A ideia de um pensamento ordenado e sistemático que todos pudessem compreender foi fundamental para o surgimento da Filosofia.
É nesse sentido que a tentativa dos primeiros filósofos foi o de buscar uma explicação do mundo natural (a physis, daí o nosso termo “física”) baseado essencialmente em causas naturais. Isso deu origem a chamada escola naturalista da filosofia. A chave da explicação do mundo da nossa experiência comum estaria, para esses filósofos, no próprio mundo e não fora dele em alguma realidade misteriosa e inacessível. Dessa forma, o mundo se abriria ao conhecimento e à possibilidade total das explicações, ao menos inicialmente.
Um aspecto importante numa discussão filosófica é de que todos os presentes, devem, de alguma forma, usarão conceitos em seus diálogos, em suas argumentações. E esses conceitos precisam, de alguma forma serem compreendidos pelo seu interlocutor, caso contrário, não seria filosofia. A filosofia grega, desenvolveu conceitos que influenciaram fortemente toda a nossa tradição ocidental.
Veremos então como alguns dos conceitos da filosofia grega constituíram o ponto de partida de uma visão de mundo que permaneceu em nossa maneira de pensar e de compreender a realidade até os dias atuais. Isso quer dizer que podemos reconhecer nesses conceitos, as raízes de palavras-chaves da nossa tradição filosófica e também usado na tradição científica.
• A Physis:
Aristóteles, no livro Metafísica, chamou os primeiros filósofos de physiólogos, ou seja, estudiosos ou teóricos da natureza (physis). Isso porque o objeto de investigação dos primeiros filósofos era o mundo natural, ou seja, seus pensamentos buscavam dar uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas que são encontráveis na natureza, e não fora desta em um mundo sobrenatural, divino, como era até então nas explicações míticas e místicas (Chauí, 2002).
• A causalidade.
A característica central da explicação da natureza pelos primeiros filósofos foi um apelo à noção de causalidade, também chamado de relação causa e efeito. Segundo esses pensadores, explicar algo é relacionar um efeito à uma causa que a antecede e a determina. Explicar é reconstruir o nexo causal existente entre os fenômenos, ou seja, é tomar um fenômeno como efeito de uma causa. É a existência desse nexo causal que torna a realidade inteligível para os filósofos naturalistas (Chauí, 2002). A explicação causal sempre possui um caráter regressivo. Ou seja, explica-se sempre uma coisa pela existência de outra anterior. Abre-se assim a possibilidade de se buscar uma causa anterior.
• A arqué: O elemento primordial.
Para evitar que a explicação causal rumasse até o infinito, mesmo porque essa regressão das explicações retornaria à elementos inexplicáveis, correndo o risco de retornar à explicação mística novamente, os filósofos da escola naturalista postularam a existência de um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo. O primeiro a formular essa noção é exatamente Tales de Mileto. Este afirmou ser a água (hydor) o elemento primordial de todas as coisas[2].
Os sucessores de Tales na Escola de Mileto, Anaxímenes e Anaximandro, adotaram respectivamente o ar e o apeiron[3]. Já Heráclito de Éfeso dizia ser o fogo o princípio explicativo. Demócrito dizia ser o átomo e assim sucessivamente.
Empédocles, com sua doutrina dos quatro elementos sintetiza as diferentes posições, afirmando a existência de quatro elementos primordiais que são a terra, a água, o ar e o fogo. E as vicissitudes desses elementos que dariam origem a tudo o que existe, tais como o cosmos, as estrelas, os planetas, os seres humanos, os animais, as plantas, etc. Notamos que a importância do conceito de arqué reside na tentativa desses filósofos de apresentar uma explicação da realidade em um sentido mais concreto, estabelecendo assim um mais princípio básico que fundamente toda a realidade e que a unifique, e que ao mesmo tempo seja um elemento físico.
• O cosmos.
O significado do termo kosmos (κosµos) para esses primeiros filósofos da escola naturalista da filosofia, está relacionado diretamente à ideia de ordem, harmonia e mesmo de beleza. Para eles, a beleza resulta da harmonia das formas. O cosmo, entendido assim como ordem, opõe-se ao caos que seria precisamente a falta de ordem, o caos é o estado da matéria anterior à sua organização. Para os filósofos, a ordem do cosmos vem de uma ordem racional que indica a existência de princípios e leis que regem e organizam toda a realidade (Chauí, 2002). É então a racionalidade que há no mundo e no cosmos que torna compreensível o entendimento humano
• O logos
O termo grego logos (λoγos) significa, lógica, razão, discurso, etc. O logos enquanto discurso difere fundamentalmente do mythos que é a narrativa de caráter poética que recorre aos deuses e ao mistério na descrição do real. O logos é fundamentalmente uma explicação baseados na racionalidade e na lógica. Heráclito explica que toda a realidade possui um logos, ou seja, a natureza tem uma racionalidade que pode ser captada pela razão humana (Chauí, 2002). Para Heráclito, existe uma correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real que torna possível o discurso sobre a realidade buscado pelos filósofos.
Um dos aspectos mais fundamentais do saber que se constituiu nessas primeiras escolas de pensamento grego foi o seu caráter crítico. Isto é, as teorias formuladas não podiam ser dogmáticas, não podiam ser apresentadas como verdades absolutas e inquestionáveis, mas tinham de ser passíveis de discussão, de suscitarem divergências e discordâncias e de permitirem formulações e propostas alternativas para toda questão que fosse apresentada. Essa multiplicidade de opiniões e de discursos é muito apreciada pelos filósofos.
Na escola filosófica, a exigência feita é que todos os pensamentos e as propostas divergentes possam ser justificadas, explicadas e fundamentadas, e que possam, por sua vez, serem submetidas à crítica. E, de modo mais profundo, é somente no espírito de philia, de amor ao saber, que se mostra o caminho pelo qual a humanidade pode alcançar a razão e o conhecimento.
ABBAGNANO, N. (2007). Dicionário de filosofia (4a ed.). São Paulo: Martins Fontes.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. Unidade 1- Cap. 1 e 2 - “A origem da filosofia” e “O nascimento da filosofia”. São Paulo: Ática, 2002.
[1] Mestre em Psicologia Clínica pela USP (2017). Graduado em Psicologia pela UNIA (2010) e em Filosofia pela UMESP (2013). E-mail filipemargarido@hotmail.com
[2] Precisamos ter em mente que a hydor explicada por Tales, é muito diferente da água de nossa experiência cotidiana. Esta hydor trata-se de um elemento líquido como o elemento mais básico, mais primordial e que está presente em todas as coisas em maior ou menor grau (Chauí, 2002).
[3] O apeiron é um conceito de Anaximandro para explicar sobre o princípio abstrato significando algo de ilimitado, indefinido, subjacente à própria natureza.
A coisa mais importante que o ser humano pode buscar é o conhecimento, sobretudo, o conhecimento de si mesmo. E conhecer a si mesmo não significa conhecer apenas os nossos corpos e os nossos pensamentos, mas também toda a sociedade ao nosso redor. E podemos praticar esse autoconhecimento através de vários caminhos. Podemos fazê-lo através das artes, da filosofia, da espiritualidade e também através da ciência. Um dos caminhos que se apresentam promissores dentro do campo científico para explorarmos parte de nossa mente são os estudos em neurociências.
Nas últimas décadas temos assistidos grandes descobertas acerca das neurociências. E um dos maiores avanços científicos foi a descoberta de que nosso cérebro não era um órgão estático, como foi acreditado durante muito tempo. Descobrimos que o nosso cérebro está em constante aprimoramento. Mas devemos estudar cautelosamente como é esse movimento, esse aprimoramento que que ocorre em cada um de nós de forma muito singular. A esta descoberta, chamamos de neuroplasticidade, que significa a capacidade que o nosso cérebro possui para se auto regenerar. Sabemos disso através dos exames de neuroimagem. Atualmente podemos mapear o desenvolvimento do cérebro ao longo dos anos para cada pessoa. Atualmente podemos ver como o cérebro se desenvolve logo nas primeiras semanas de gestação até nos últimos anos de vida.
Podemos notar mudanças significativas que ocorrem na primeira infância, mudanças na adolescência e também mudanças durante o processo de envelhecimento. Descobrimos que o cérebro possui uma elasticidade, digamos assim. Nosso cérebro é totalmente vulnerável à biologia, à genética e ao ambiente ao qual ele está inserido. Porém há algo de novo a ser acrescentado nessa discussão.
Até pouco tempo atrás acreditava-se que o cérebro do adulto é menos flexível do que o de uma criança, e isso demonstrou-se ser um equívoco, pois o nosso cérebro está em constante aprimoramento durante toda a vida. É isso que nos mostra a neuroplasticidade e mais recentemente os estudos sobre neurogênese.
Até pouco tempo atrás acreditava-se que o cérebro não produzia novos neurônios e isto provou-se ser uma inverdade. Essa hipótese de que o cérebro não produzia novos neurônios e que o sistema nervoso era estático foi levantado por um médico ganhador do prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1906 chamado Ramón y Cajal (1852-1934). Naquela época, Cajal não tinha acesso aos exames de neuroimagem e os estudos em bioquímica ainda eram relativamente rudimentares em sua época. Seu dogma foi aceito como verdade pelas ciências durante muito tempo.
Após muitas décadas e mesmo com certa até dificuldade, a comunidade científica teve que superar esse paradigma de que o sistema neurológico fosse estático. Atualmente é possível mapear o surgimento de novos neurônios e de novas conexões nervosas. Também é possível mapear o processo de transformação de uma célula tronco em células nervosas e mesmo também a transformação de células tronco em células da Glia, esta que é uma das maiores descobertas em neurociência nos últimos tempos.
Muitas células não completam o procedimento de maturação e morrem no processo. Porém, as células que se tornarem neurônios, elas poderão produzir novas redes neurais possibilitando assim uma conexão às antigas redes neurais. Esses novos neurônios apresentam uma maior elasticidade, ou plasticidade sináptica e se conectarão estrategicamente aos antigos neurônios propiciando assim uma ponte entre os novos neurônios e os antigos. Esse processo é muito importante para manutenção da homeostase do corpo, isso possibilita a pessoa adquirir habilidades cada vez maiores ao longo da vida.
Chamamos esse processo de formação de novos neurônios de neurogênese. E essa produção ocorre ao longo da vida podendo variar de intensidade com as circunstâncias de cada um. Esse processo de formação de novos neurônios é um processo complexo e que não ocorre em uma só etapa. Existe um longo processo de maturação desde a célula tronco até que ela se transforme em um neurônio adulto, e, mesmo nesse processo de maturação, esse neurônio exibe diferentes fenômenos biológicos químicos e físicos.
Atualmente acredita-se haver uma relação entre esses novos neurônios com a estrutura cognitiva da pessoa. Ou seja, é possível que esse processo de neurogênese possa, interferir nos processos de memória, na linguagem e mesmo na afetividade da pessoa. Porém isso ainda é bem discutível na comunidade acadêmica. Ao menos, já sabemos que o cérebro não para definitivamente de criar novos neurônios, o que pode ocorrer é uma diminuição na produção de novos neurônios devido a uma infinidade de fatores biológicos, químicos e físicos.
É verdade que o cérebro não funciona de forma igual em todas as idades, porém, não é verdade que ele terá menos funcionalidade ao decorrer dos anos. Temos descoberto técnicas cada vez mais sofisticadas que possibilitam uma formatação do nosso sistema neurológico para ter uma melhor performance. Existem os chamados “exercícios cerebrais” onde é possível exercitar o nosso cérebro para trabalhar ao nosso favor, mesmo nas fases mais avançadas da vida da pessoa.
Existem diversos exercícios cerebrais, os principais são atividades físicas regulares, alimentação adequada, hábito de leitura, resolução de equações matemáticas em níveis cada vez mais complexos, aprender um novo idioma, aprender tocar um instrumento musical, etc. Tudo isso facilita o processo de plasticidade neural permitindo assim que o cérebro tenha um melhor desempenho ao longo da vida. Existem diversos métodos que não caberia aqui elencar todos eles. Isso nos mostra que podemos modelar, ainda que em certa medida, o nosso estado de saúde.
Aprender algo novo aumenta não somente o nosso conhecimento como também nossa plasticidade e a nossa química cerebral. Isso também é chamado de “plasticidade positiva” que significa a modulação do cérebro para padrões adequados e saudáveis de funcionamento. Existe também a plasticidade negativa que ocorre quando o indivíduo, possui hábitos de vida degradantes, por exemplo, um péssimo hábito alimentar, sedentarismo, falta de estudos, etc. A plasticidade negativa também pode ocorrer quando o paciente é acometido por alguma doença, quando ocorre abuso de drogas, etc. Existem diversos fatores que interferem para uma plasticidade negativa, tais como a falta de sono adequado e até a depressão.
Sabemos que existem doenças crônicas que dificultam os processos da neuroplasticidade, tais como a Esclerose Múltipla, Doença de Parkinson, Doença de Alzheimer, Epilepsia, etc. Todos esses fatores podem interferir causando um processo de neuro-degeneração. Porém, a depender do hábito de vida de cada pessoa, juntamente com os fatores ambientais e genéticos, o indivíduo poderá ter melhores condições para lidar com esses transtornos e envelhecer de forma mais saudável, de tal forma que seu envelhecimento seja uma lição pra si e para toda a comunidade no qual ela está inserida. Dessa forma, o envelhecimento saudável e torna-se um aprendizado para todos nós.
Nosso cérebro pode ser comparado analogicamente com uma semente jogada sobre um terreno. A semente por si só carrega em si um alto potencial de germinação, porém, ela não faz milagres sozinha, ela não poderá desenvolver-se por sua própria vontade independente das circunstâncias. Para essa semente germinar é preciso também que o ambiente e as condições sejam favoráveis ao seu desenvolvimento. O mesmo vale para o cérebro, porém, mais do que ser uma semente, nosso cérebro no seu estado maduro, pode modelar-se a si mesmo de acordo com a meta proposta por cada pessoa para obtenção de uma finalidade em específico.
Levantamos então a hipótese de que a neurogênese esteja relacionada, de alguma forma, com os processos de aprendizagem e aquisição de novas memórias. Porém, importante lembrar que os processos de aprendizado não estão totalmente condicionados à neurogênese, certamente há outros fatores. Também não é fato que a cognição da pessoa está condicionada à quantidade de neurônios que o cérebro é capaz de produzir. Afirmamos isso porque ainda não há estudos que possam fazer uma relação direta entre neurônios e cognição, entre neurônios e inteligência.
Atualmente é quase impossível mensurar precisamente sobre as taxas de produção de novos neurônios versus morte dos antigos neurônios, e mesmo sobre a relação da neurogênese com os processos cognitivos da pessoa. Mas podemos sim pressupor que haja uma relação entre a neurogênese e o processo de homeostase de diversas funções biológicas do nosso corpo.
O importante é a descoberta sobre a neuroplasticidade e sobre a neurogênese. Estes processos já nos dão um grande esforço para compreendê-las tecnicamente e aplica-las no nosso dia a dia em prol do nosso aprimoramento enquanto seres dotados de inteligência. Esse é o espírito científico, que por sinal, também é o espírito filosófico. É esse espírito que mantém acesa em nós uma chama de busca, de compreensão, de trabalho e de autoconhecimento.
Filipe Margarido[1]
Alexandre Frascaroli[2]
Este trabalho é uma rápida apresentação sobre o que é a psicanálise e seus principais conceitos. Para tanto, discorreremos também sobre alguns aspectos biográficos de Freud. Comentaremos também sobre alguns pontos capitais de seu pensamento. Posteriormente explicaremos como o método catártico é utilizado pela psicanálise visando o tratamento e, possivelmente, a cura de seus pacientes.
“O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica”.
Sigmund Freud
Introdução
Sigmund Schlomo Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, que era pertencente ao Império Austríaco, no dia 6 de maio de 1856. Filho de Jacob Freud, um comerciante e de Amalie Nathanson, ambos de origem judaica, ele foi o primogênito de sete irmãos. Aos quatro anos de idade, sua família mudou-se para Viena procurando melhores perspectivas econômicas.
Desde pequeno ele mostrava-se ser um brilhante aluno. Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Viena, no curso de Medicina. Concluiu o curso em 1881 e tornou-se um médico clínico especializado em neurologia.
Em 1884 Freud entrou em contato com o médico Josef Breuer que tratava sintomas graves de histeria através do método da hipnose. Por meio desse método, o paciente conseguia se recordar das circunstâncias que deram origem ao seu trauma. Os estudos e os trabalhos sobre a hipnose e a histeria foram o ponto de partida da psicanálise.
Em 1885, Freud obteve o mestrado em neuropatologia. Nesse mesmo ano ele ganhou uma bolsa de especialização em Paris, para estudar com o neurologista francês Charcot. Depois, quando voltou à Viena, Freud continuou suas experiências com Breuer. Publicou junto com ele o livro: Estudos sobre a Histeria (1895), que marcou o início de suas investigações psicanalíticas.
Em 1897, Freud começou a estudar mais detalhadamente sobre a natureza sexual dos traumas infantis, que, segundo ele, seriam os causadores da neurose. A partir disso ele começou a delinear a teoria do “Complexo de Édipo”, segundo a qual faz parte da estrutura mental dos homens nutrir um amor erótico pela mãe. Nesse mesmo ano, ele analisou sobre a importância dos sonhos na psicanálise. Em 1900 publica A Interpretação dos Sonhos (1900), a primeira obra psicanalítica propriamente dita.
Em pouco tempo, Freud deu um passo decisivo e totalmente original abrindo um vasto campo para o desenvolvimento da psicanálise. Ele abandonou os estudos e os trabalhos sobre a hipnose substituindo-o pelo método da Associações Livre. Segundo essa, ele aprofundou nas camadas mais profundas da mente humana.
Durante dez anos Freud trabalhou sozinho no desenvolvimento da psicanálise. Em 1906, a ele juntou-se Adler, Jung, Jones, Stekel, entre outros. Em 1908 realizaram o primeiro Congresso Internacional de Psicanálise, em Salzburg. O primeiro sinal de aceitação da Psicanálise no meio acadêmico surgiu em 1909, quando foi convidado a dar conferências na Clark University, nos EUA,
Em 1910, por ocasião do segundo congresso internacional de psicanálise, realizado em Nuremberg, Freud fundou a Associação Psicanalítica Internacional, consagrando psicanalistas em diversos países. Entre 1911 e 1913, Freud foi vítima de hostilidades, principalmente dos próprios cientistas, que, indignados com sus ideias, tentaram desmoralizá-lo, principalmente por conta da teoria da sexualidade.
Em 1923 Freud já doente, já havia passado pela primeira cirurgia para retirar um tumor na região do palato. Começou a ter dificuldades para falar, sentia dores e desconforto. Seus últimos anos de vida coincidiram com a expansão do nazismo na Europa. Em 1938, quando os nazistas tomaram Viena, Freud teve seus bens confiscados e sua biblioteca queimada, sendo obrigado a se exilar em Londres. Freud morreu em Londres, Inglaterra, no dia 23 de setembro de 1939.
Há algumas semelhanças entre o que pretendiam Charcot e Breuer com a hipnose com o que Freud pretendeu com a psicanálise. Ambas as técnicas procuram levar o paciente a reconhecer o que há na sua interioridade. As histórias da hipnose e da psicanálise podem se confundirem muitas vezes, isso porque Freud tenha aplicado amplamente essa técnica em seus tratamentos. Ambas as técnicas – hipnose e psicanálise - compreendem que os sofrimentos sentidos pelos indivíduos são consequência de uma energia psíquica reprimida.
No início dos trabalhos sobre a Hipnose, Freud teve muita influência do médico Breuer. Teve também influência do pensamento de Charcot, que em seus estudos sobre a hipnose, propôs uma teoria para a histeria. Tanto Charcot quanto Breuer notavam que, após as sessões de hipnose, após as pacientes narrarem e, de alguma forma, reviverem seus traumas, elas melhoravam. As descobertas feitas tanto por Breuer quanto por Charco, influenciaram fortemente a teoria do inconsciente de Freud.
Com o tempo, Freud deixou de usar a hipnose e adotou a técnica da Associação Livre. Nessa, o paciente é convidado a falar abertamente sobre o que pensa e sente assim quando as ideias chegam em sua cabeça. Sem a preocupação de que o discurso seja linear. Freud então descobriu essa mesmo essa fala livre ajuda o paciente a recordar e acessar lembranças guardadas no inconsciente sem o uso da hipnose.
Na hipnose, o cliente é colocado em um estado alterado de consciência, de forma que aceite as sugestões do terapeuta com mais facilidade. Enquanto que na psicanálise prefere-se usar a técnica da Associação Livre. Freud percebeu que as informações obtidas durante o estado de transe eram difíceis de analisa-las factualmente. Ele também percebeu que mesmo as resistências que o paciente apresenta na análise, são importantes de serem analisadas, já que na hipnose as defesas dos pacientes estão menos reprimidas.
Embora a abordagem psicanalítica seja diferente das técnicas de hipnose, ambas as técnicas podem auxiliar no tratamento de problemas como depressão; bulimia; anorexia; dependência química; síndrome do pânico; transtorno do estresse pós traumático, etc. Ambas as técnicas trabalham a mente, buscando libertar o subconsciente de lembranças traumáticas. Seja qual for a área de atuação, há diversas questões éticas a serem observadas.
Pensar em psicanalise é, como Freud mesmo definiu, pensar e executar um procedimento de investigação acerca da mente. A psicanálise trata-se de um método baseado na investigação psíquica voltado para o tratamento de distúrbios neuróticos. Além disso, a psicanálise trata-se de uma série de concepções adquiridas por diversas fontes teóricas para se formarem numa nova área do conhecimento.
Denomina-se psicanálise o trabalho pelo qual procura-se levar à consciência do paciente aquilo que foi recalcado. Ao analisar o paciente, Freud observa-o durante o seu livre falar, ou, a Associação Livre. Tudo o que o sujeito expressa por meio de palavras e sensações durante o processo analítico é analisado com profunda acuracidade.
Primeira Tópica da Psicanálise:
Por questões metodológicas, Freud criou duas tópicas para uma melhor compreensão da psicanálise. Na primeira tópica, ele desenvolveu as ideias de inconsciente, pré-consciente e consciente, que dizem respeito ao que nós temos acesso ou não em nossa mente.
Consciente
Segundo Freud, o psiquismo humano pode ser compreendido como um iceberg, no qual há apenas uma pequena parte emerge na superfície da água. Essa parte emersa corresponde ao nosso consciente. Nele estão armazenados os raciocínios, pensamentos e as percepções que a pessoa é capaz de voluntariamente evocar e controlar segundo suas necessidades, desejos e conveniências em relação ao meio social.
Ao contrário do inconsciente, no estado consciente é possível controlar voluntariamente as ações dependendo das necessidades e das exigências do indivíduo. Para Freud, a existência apenas da camada consciente não explicava muitos dos comportamentos humanos, tais como algumas patologias, o que o levou a afirmar a existência de uma outra camada da psique, chamada de inconsciente.
Pré-consciente
Freud explica que o pré-consciente é o que faz a ligação entre o consciente e o inconsciente. Na metáfora do iceberg, o pré-consciente corresponde a uma zona flutuante de passagem entre a parte visível e a parte oculta. É constituído por conteúdos psíquicos que podem ser recuperados de forma relativamente fácil. A sua função é impedir a manifestação de pulsões socialmente inaceitáveis.
Inconsciente
A parte submersa do iceberg corresponde à nossa camada inconsciente. Ela é formada por instintos, pulsões e desejos, muitos dos quais não são socialmente aceitáveis. O inconsciente é como um vasto contentor, onde estão depositados impulsos, desejos e também os impulsos de base biológica. Para Freud, o inconsciente é a nossa verdadeira realidade psíquica.
Segunda Tópica:
A segunda tópica de Freud também é uma subdivisão da mente humana. A primeira tópica (consciente, pré-consciente e inconsciente) pode explicar até certo ponto da mente humana, a partir deles seria preciso realizar uma nova subdivisão. Importante lembrar que todas essas estruturas não são elementos estáticos ou estruturas totalmente rígidas.
O Id
O Id é um elemento camada da nossa mente. Nele, são processadas nossas pulsões, nossa energia psíquica e nossos impulsos mais primitivos. Ele é guiado pelo princípio de prazer. Não há para o Id nenhuma regra a ser seguida, pois tudo o que lhe interessa é a realização do desejo.
O Id se localizado no nível inconsciente da nossa mente, e não reconhece as estruturas sociais. Para este, não há certo ou errado, não há tempo ou espaço e não importam as consequências das ações. O Id é o ambiente dos impulsos sexuais. O Id está sempre buscando formas de satisfazer esses impulsos, e também buscando formas de não se frustrar.
O Ego
O Ego é o elemento principal de mediação entre os impulsos do Id e o da proibição do superego. Ele é a nossa instância psíquica que evolui a partir do Id, por isso, possui elementos do Inconsciente. Apesar disso, funciona também a nível Consciente.
O Ego é guiado pelo princípio de realidade, uma de suas funções é limitar o Id quando considerar seus desejos inadequados para determinada ocasião. O Ego representa a mediação entre as exigências do Id, as limitações do Superego e da sociedade.
Em última instância, a partir de um certo ponto da infância, na maioria das vezes, será o Ego que tomará a decisão final. Uma pessoa que não possua o Ego bem desenvolvido, não poderá desenvolver também o Superego. Essa pessoa seria guiada exclusivamente por seus impulsos primitivos, ou pelo Id.
O Superego
O Superego é a instância da censura, da culpa e do medo da punição. Ele resulta, em grande parte, das imposições sofridos na infância. Também pode ser compreendido como uma instância reguladora. A moral, a ética, a noção de certo e errado e todas as imposições sociais se internalizam dentro do Superego. Ele se posiciona contra o Id, pois ele representa o que há de civilizado, de cultural em nós, em detrimento dos impulsos arcaicos.
O Superego, mantém parte Consciente e parte Inconsciente. Ele é desenvolvido ainda na infância, a partir do Ego, no momento em que a criança passa a entender os ensinamentos passados pelos pais, pela escola, pela sociedade e pela lei.
Com o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, tanto o Id, o Ego e o Superego já estão todos presentes na psique. Ocorre, então, em muitas ocasiões, uma “batalha” entre eles digamos assim. O Id e o Superego tentam em vários momentos assumir o controle da situação. Tendo em vista que os dois representam desejos e impulsos completamente opostos, cabe então ao Ego realizar a mediação.
O Ego deve manter o equilíbrio entre esses dois lados aparentemente tão distintos. Como uma espécie de balança mediadora, o ego avalia as vontades do Id e do Superego, para chegar à um meio termo, assim é esperado.
Através de uma melhor compreensão acerca do Id, do Ego e do Superego podemos entender melhor de onde vem nosso sentimento de culpa e autocensura. Podemos, também, entender porque muitas decisões são difíceis de serem tomadas, e também porque dificilmente nos sentimos plenamente satisfeitos com nossas escolhas.
O Id, Ego e Superego não podem concordar mutuamente, já que a vida em sociedade exige uma sublimação de nossas pulsões. E essa discordância interna é o que traz, muitas vezes, sentimentos de frustrações, indecisão e mal-estar. Dessas discordâncias, surgem as muitas das psicopatologias que interessam à psicanálise.
Para a psicanálise, existem duas categorias de pulsões existentes na psique humana. São as pulsões de Eros e de Thanatos. Eros simboliza o instinto de vida que assegura as necessidades mais básicas, tais como alimentação, sono, reprodução, etc. E Thanatos representa o instinto de morte que estaria presente em todos os comportamentos agressivos e destrutivos.
Importante ressaltar que para Freud, essas pulsões são inconscientes. Eles possuem um dinamismo próprio cujo papel na determinação do comportamento humano. Ou seja, o indivíduo não conseguiria conscientemente deliberar sobre suas pulsões de Eros ou Thanatos.
O Complexo de Édipo é um conceito criado por Freud. Ele usou de base a mitologia grega do Édipo Rei, de Sófocles. Freud diz que tomar conhecimento sobre essa mitologia dá um certo incômodo para muitas pessoas, uma que vez que esse mito “evoca” o que estava adormecido em todos nós que é a questão do incesto. A Teoria do Complexo de Édipo procura mostrar como se dão os sentimentos de amor e ódio que as crianças possam para aqueles que lhes são mais próximos, no caso, os pais.
O complexo de Édipo ocorre quando a criança está atravessando a fase fálica, ou seja, quando ela percebe ser alvo de várias proibições que outrora lhe eram desconhecidas. Nesse momento, a criança não pode mais fazer o que bem entende, é quando a família e a sociedade começam a impor regras, limites e padrões outrora desconhecidos para a criança.
Assim, quando a criança está nesse processo, ela reconhece a distinção entre ela e seus genitores, e ingressa então em uma das fases mais importantes de sua vida, tendo em vista que o desfecho desse processo definirá todo seu comportamento na vida adulta, principalmente na esfera sexual.
No menino, o complexo de Édipo se desenvolve através de um investimento objetal em direção à mãe. O menino primeiramente investe para o seio materno, este que lhe serve de modelo analítico de relação objetal. A sua relação com o pai é de identificação incialmente. Esses dois relacionamentos não têm longa duração, pois logo os desejos incestuosos do menino pela mãe se tornam mais intensos, e o pai passa a ser visto como um obstáculo.
Logo, a identificação com o pai torna-se uma relação de hostilidade e o desejo de livrar-se dele aumenta. Também aumenta nessa criança, um desejo de ser a prioridade da mãe, mas logo percebe que não é. A ambivalência dessa relação de identificação com a mãe, se manifesta procurando dominar a criança tem com o pai. Portanto, o Complexo de Édipo positivo do menino se caracteriza por uma atitude ambivalente em relação ao pai e por uma relação afetuosa com a mãe.
Para entendermos o que acontece no Complexo de Édipo, é preciso voltarmos um pouco nos “primórdios” das relações objetais do bebê com a mãe. Para Freud, o primeiro objeto erótico de uma criança é o seio da mãe que o alimenta. Segundo a teoria psicanalítica, a origem do amor do bebê para com a mãe, está ligada à necessidades de nutrição. Este primeiro objeto de desejo, no caso, o seio materno, é ampliado à figurada da mãe. E esta, não apenas o alimenta, mas também lhe cuida e lhe desperta diversas sensações físicas, agradáveis e desagradáveis. Através dos cuidados maternos com o corpo da criança, a mãe torna-se algo sedutor para a criança. A mãe, ao cuidar do corpo da criança, “erotiza” a criança, atribuindo-o afeto, corpo e cuidados.
Na fase fálica (que ocorre ao mesmo tempo que ocorre o complexo de Édipo) o órgão genital, assume o papel principal para a criança. A criança nessa fase percebe seu interesse pelos seus órgãos genitais, ela demonstra um comportamento de manipulação do mesmo. Logo, ela descobre que os adultos reprovam tal comportamento à mesma medida que inferem uma certa punição subjetiva para a criança. E isso é estranho para a criança, pois o que até então era um objeto fálico, agora torna-se um objeto de proibição.
A dissolução do complexo de Édipo é ocasionada pela ameaça da castração. É quando a criança deve abandonar seu investimento objetal para a mãe, também chamado de catexia. O seu lugar pode ser preenchido por uma das duas coisas: Uma identificação com a mãe, ou, uma intensificação de sua identificação com a mãe.
Nos homens, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, no caso das mulheres, segundo Freud elas aceitam a castração já como um fato consumado. Enquanto os homens temem a possibilidade de sua ocorrência.
Dependendo do percurso percorrido durante o Complexo de Édipo o indivíduo poderá manifestar diversos conflitos durante sua vida adulta, ou seja, o Complexo de Édipo influencia diretamente na construção da estrutura psíquica do indivíduo.
A palavra catarse vem do grego kátharsis que geralmente é traduzido como purificação ou purgação daquilo que é estranho à essência ou à natureza de algo. (Houaiss, 2007, pg. 651). A psicanálise faz uso do método catártico, por meio dela, procura-se expurgar algum conteúdo reprimido do paciente.
Na psicanálise, o método catártico ganha força quando Freud recusa o método da hipnose e retoma o procedimento terapêutico com uma nova técnica. Porém, com associação livre, também se busca um tipo de catarse.
Esse método é orientado para quem procura por psicanálise, no intuito de “parir” o que se esconde no inconsciente e que de alguma forma assombra o paciente. Dessa forma é possível expurgar ou até anular os efeitos patogênicos. Importante lembrar que na filosofia, o efeito catártico já era empregada através dos diálogos Socrático, nos jogos olímpicos, no orfismo, no pitagorismo, etc.
O método catártico freudiano é a especificidade do analista de base psicanalítica. Nessa, o analista busca descobrir e desmontar, pacientemente, as armaduras do inconsciente. Freud conheceu o que era o método catártico na filosofia, nas artes, na literatura, na mitologia e aplicou esse método em seus pacientes. O método catártico psicanalítico tem funda-se por meio da escuta do sujeito que sofre. Dessa forma, Freud cria um método privilegiado para o campo psicanalítico.
A partir da importância do método catártico pode ser utilizado em diversos tipos de terapias. Da mesma forma, ela é um dos métodos utilizados pela psicanálise. Para o equilíbrio psíquico do paciente, o método catártico possibilita a cura através da fala, que é o meio pela qual os afetos podem ser acessados.
Referências
Abbagnano, N. (2009). Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
Dell'isola, A. (2019). Hipnose e psicanálise: o que aproxima e o que o distancia esses dois termos. Disponível em https://albertodellisola.com.br/hipnose-e-psicanalise/
Dilva, F. (2020) Sigmund Freud. Disponível em https://www.ebiografia.com/sigmund_freud/#:~:text=Sigmund%20Freud%20(1856%2D1939),6%20de%20maio%20de%201856.
Freud, S. (1996) Esboço de psicanálise. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago.
Houaiss, A. (2001) Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva.
Louzada, D. (2018). 4 elementos da Teoria de Freud. Disponível em https://www.psicanaliseclinica.com/elementos-teoria freud/?gclid=Cj0KCQjw_ez2BRCyARIsAJfg-kswcgOm6cwbVHWhXj8RbNDy6CE0zNr9qJDCVjD7jiuXRjtMMYoUYVcaAp0fEALw_wcB
[1] Mestre em Psicologia Clínica pela USP (2017). Graduado em Psicologia (2010) Graduado em Filosofia (2013).
[2] Graduado em Psicologia pela UNIA (2010).
Esse texto propõe uma reflexão sobre o atual uso das técnicas de leitura cerebral através dos meios tecnológicos. Essas técnicas também são conhecidas como técnicas de Mind-Reading, ou Scan Cerebral. Nessa, busca-se uma união das neurociências com a tecnologia afim de criar uma nova perspectiva de compreensão humana. As técnicas de Mind-Reading prometem ser uma das maiores revoluções científica e tecnológica da humanidade dos últimos séculos. E essa mudança de paradigmas não será um processo simples, porque ainda temos deficiência em muitas áreas importantes e que são anteriores às neurociências e as tecnologias. Essas deficiências são em relação às questões éticas. Diante dessas questões éticas e sua interface com as técnicas de leitura cerebral, esse texto torna-se um convite à reflexão. Esse trabalho é um convite a adentrar os limites da neurociência, da psicologia e da filosofia.
É possível uma outra pessoa ler seus pensamentos? Caso sim, como isso é feito? Como isso deve ser feito? Como a leitura dos pensamentos através de meios tecnológicos e neurocientíficos podem afetam aquilo que entendemos por ética? Pode isso afetar o que entendemos como política e também o que entendemos como linguagem? Possivelmente. E quando essa tecnologia estiver ocorrendo em larga escala, nos caberá a seguinte pergunta: Será que nós, enquanto humanidade, estamos preparados para lidar com essa mudança de paradigma que essa tecnologia nos possibilita? Será que estamos eticamente preparados para adentrar nos confins da mente humana? Ou talvez seria melhor retrocedermos um pouco e rever aquilo que conhecemos como ética, aquilo que conhecemos como política e aquilo que conhecemos como linguagem?
Muito embora as técnicas de leitura cerebral possam parecer uma literatura futurista, ressaltamos que isso é uma realidade bem atual. Isso já acontece nos exames de neuroimagem onde já é possível identificarmos padrões de pensamentos e emoções que cada pessoa apresenta em determinadas circunstâncias. E essa tecnologia tem sido usada não somente nas áreas da saúde, como também nas áreas da segurança, da política, da tecnologia da informação, da inteligência artificial, etc.
Há diversas boas aplicações sobre as técnicas de leitura cerebral, por exemplo, podemos usa-las como scan cerebral para fins terapêuticos. Nas áreas da saúde podemos usa-las para identificar doenças degenerativas tais como Alzheimer, Doença de Parkinson, etc. Também pode usa-la para ajudar a diagnosticar logo cedo alguns transtornos mentais, por exemplo, nos casos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) através da leitura da íris da criança durante o instante em que ela assiste um desenho. Também podem serem utilizadas para o diagnóstico de alguns dos transtornos do aprendizado, etc. É tão vasto campo de aplicação nas áreas da saúde que não terminaríamos aqui caso fôssemos elencá-los.
Uma das diversas aplicações das técnicas de leitura cerebral é no campo da educação. Por meio das técnicas de biofeedback - que consiste num procedimento simples de monitorização da cabeça do paciente com eletrodos conectados à um computador - nesse procedimento, propõe-se para a pessoa realizar algumas atividades, tais como narrar uma história, fazer um cálculo, etc., afim de verificar o desempenho cognitivo da pessoa numa determinada situação, e projetar ao vivo na tela de um computador.
Uma das aplicações das técnicas de leitura cerebral inclui dar comandos simples para um computador, jogar vídeo game, mover um braço mecânico, reconhecimento de comando de voz, reconhecimento facial, etc. As técnicas de leitura cerebral tem sido até ser usadas para fins comerciais, por exemplo, monitorando o cérebro de uma pessoa e ver como que ela reage, positivamente ou negativamente diante de uma propaganda. Isso possibilita que a indústria do marketing descubra o melhor modo de produzir e vender um produto ou promover uma marca.
Essa tecnologia permite também prever com algum tempo de antecedência, que escolha uma pessoa fará numa determinada ocasião, por exemplo, no jogo pedra papel e tesoura. Nesse, é possível prever segundos antes do indivíduo mostrar sua escolha, qual escolha o indivíduo fará. Também há ocasiões em que a aplicação dessas técnicas são bem mais controversas, por exemplo nas áreas criminais, na esfera política e nas áreas da segurança.
Todas essas questões sobre possibilidades ou impossibilidades do uso dessas tecnologias de leitura cerebral nos traz um novo campo de discussão para toda a comunidade acadêmica. Essa problemática sobre os limites do uso das técnicas de leitura da mente, chama-se neuroética. Este termo é relativamente novo nas áreas da saúde. Esse novo campo da neuroética realiza uma análise da Neurociência aplicada às questões éticas, políticas e educacionais para a sociedade.
As técnicas de leitura da mente, ou, scan cerebral, permitem um mapeamento das nossas emoções, dos nossos medos, e, de alguma forma, até alguns dos nossos pensamentos. Essa tecnologia permite que nossos pensamentos possam ser analisados por um por uma outra pessoa ou até mesmo por uma equipe. Não somente equipe de saúde, mas também equipes do marketing, da política, da tecnologia da informação, etc. E não somente analisados, como também utilizados para diversas finalidades.
Sabemos que toda tecnologia da informação possui seus riscos, o risco aqui seria que essas informações obtidas possam ser usadas indevidamente, possam ser hackeadas, vendidas e usados para fins comerciais, fins corporativos, fins publicitários, etc. Isso sem falar na tão controversa teoria de upload da consciência, ou formatação da consciência em arquivos digitais.
O que poderia acontecer se uma economia ou um grupo político pudesse ter acesso às informações acerca de seus pensamentos? Ou acerca dos pensamentos de uma população em larga escala? Certamente essa economia ou grupo político faria uso dessa informação para fins econômicos, governamentais e políticos, sem dúvida. E questionamos: a quem pertence a economia e a política?
O professor Paul Wolpe, diretor do departamento de ética da Universidade de Emory em Atlanta, em seus estudos sobre bioética em neuroética cunhou um termo chamado de “liberdade cognitiva”. Com esse termo ele refere sobre termos liberdade e alcunha sobre aquilo que consideramos ser puramente nosso, tais como nossos pensamentos. Em seus estudos sobre sociologia, política e tecnologia ele aponta para o risco do “mau uso” dessas informações que a indústria, o mercado ou o estado possam fazer. Com o termo “mau uso” queremos dizer que essa informação possa promover maiores estratégias de dominação em massa.
Os estudos e avanços em neurociências não pararão e nem podem parar, mas chamamos a atenção da comunidade científica para que tenhamos responsabilidade sobre nossas próprias criações afim de garantirmos que os avanços tecnológicos e neurocientíficos sejam utilizados com finalidade voltada para a saúde. E para os demais procedimentos fora da área da saúde, devem ser analisados por um comitê de ética multicontinental devidamente estabelecido e sem interferência de interesses particulares, de grupos mercadológicos ou interesses políticos. Mas será mesmo possível um comitê intercontinental possa arbitrar sobre a aplicação de alta tecnologia e que esse comitê esteja fora do alcance de grupos mercadológicos ou interesses políticos? Notemos então que esse assunto toma grandes proporções.
Enquanto isso, os avanços em neurociências e nas técnicas de leitura cerebral continuam a crescer exponencialmente. Atualmente está em andamento os trabalhos do neurocientista Giulio Tononi da Universidade de Wisconsin. Ele tem trabalhado num projeto de mensuração dos dados e informações obtidas através das diversas técnicas de scan cerebral, também chamadas de mind-reading e transformando-os num algoritmo chamado Pi (φ). Esse projeto também é chamado de Integrated Information Theory. Neste, ele reúne diversos dados e informações do organismo da pessoa transformando num algoritmo. Mas ele e a sua equipe não são os únicos a trabalharem quantificando e qualificando em algoritmos as informações cerebrais de um grande número de pacientes. Muitos pesquisadores estão reunindo os dados obtidos dos scanners cerebrais, tais como dados obtidos de exames como o eletroencefalograma (EEG), a tomografia computadorizada (TC), a ressonância magnética funcional (FMRI), o magnetoencefalografia (MEG), a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), entre outros.
Toda essa revolução iniciada pelas técnicas de leitura cerebral nos traz à tona também uma outra questão importante que é a questão da linguagem. Habitualmente nos comunicamos de diversas formas, nos comunicamos por meio de expressão corporal, por meio da linguagem verbal, expressão facial, etc. A partir desse novo horizonte tecnológico, poderemos nos comunicar também por meio das técnicas de scan cerebral. Pensemos num exemplo prático: não seria melhor se ao invés de passarmos longas horas escrevendo, lendo, estudando sobre um tema se nós pudéssemos comunicar ideias e pensamento uns aos outros através de leitura das ondas cerebrais? O quanto isso não significaria um avanço para comunicar importantes descobertas em diversas áreas do conhecimento num curto espaço de tempo? A ideia parece ótima, mas, como dito anteriormente, nosso campo de ética ainda é deficitária.
Juntando os dados obtidos através de scan cerebral juntamente com a leitura de micro expressões faciais e corporais, juntamente com a monitorização do funcionamento biológico químico e físico do nosso corpo, certamente poderíamos rastrear a veracidade da informação do diálogo de um interlocutor. Eventualmente isso tem sido utilizado como detector de mentiras, e essa técnica é bem controversa dentro do campo judicial.
Extrapolando sobre as diversas aplicações que as técnicas de mind-reading podem ter, consideremos o campo da política. Dentro daquilo que poderia ser validado pela neuroética, poderíamos imaginar como isso poderia ser aplicado nos discursos políticos caso pudéssemos verificar neurologicamente sobre o desempenho de cada político ou de cada candidato em um monitor afim de observarmos o quanto há de veracidade naquilo que ele está dizendo no instante que ele está discursando sobre plano de governo, sobre economia, etc. Talvez nos ajudaria a eleger candidatos que apresentarem uma “melhor” performance. O quanto isso não poderia nos ajudar a prevenir catástrofes como guerras, evitar eleger candidatos que tenham certa predisposição contra a humanidade.
Poderíamos também saber o quanto cada candidato está interessado em potencializar a indústria bancária, potencializar a indústria bélica mais do que a da educação ou da saúde, etc. Talvez nos ajudaria a eleger candidatos que não estejam essencialmente interessados no desenvolvimento de armas de destruição facilitando assim que a humanidade se destrua muito antes de seu amadurecimento. Candidatos com esse perfil não é algo incomum atualmente. Esses candidatos têm aprovação do seu povo, e isso que torna a discussão interessante.
Mas o foco é: O quanto não seria bom um uso adequado das técnicas de mind-reading e da inteligência artificial quando bem aplicados? O quanto isso não poderia contribuir para um grande desenvolvimento da humanidade? Para isso que isso seja efetivo, primeiramente, deveríamos nos aprofundar em compreender melhor aquilo que chamamos de ética, aquilo que chamamos de política e aquilo que chamamos de linguagem. E, mudando aquilo que a gente conhece como linguagem, poderíamos mudarmos também mesmo aquilo que conhecemos como humanidade.
Esperamos não ter assustado o leitor com essa curta análise. Importante afirmar que as máquinas não vão destruir a humanidade. O problema não são as máquinas, mas sim, o programador. Talvez haja sim a possibilidade de o homem destruir a si mesmo muito antes de seu amadurecimento. Há sim essa possibilidade. Também importante afirmar que se um dia as máquinas desenvolverem autoconsciência – e reservo aqui um significado muito particular com o quero dizer com autoconsciência – essa autoconsciência artificial terá comiseração pela humanidade porque logo ela perceberia o quão precário nós somos.
Conclusão
Alea Jacta Est, ou, A Sorte Está Lançada. Optamos por criar a Inteligência Artificial em prol do “nosso bem”, sem saber direito o que seria esse “nosso bem”. Assim nos colocamos a caminho de uma sociedade pós-tecnológica e nos aproximamos daquilo que é chamado de trans-humanismo. Isso ocorrerá quando o homem se fundir, ao menos parcialmente, com a tecnologia. Trataremos desse tema num próximo texto. Enquanto isso, devemos re-fletir sobre o que entendemos por ética, política, educação e linguagem.
Referências
Bublitz (2013) My Mind is Mine!? Cognitive Liberty as a Legal Concept Cognitive Enhancement. Springer 2013, Chapter 19, 233-264. Disponível em < http://neuroethik.org/wp-content/uploads/2014/08/Bublitz-Draft-My-mind-is-mine-Cognitive-Liberty-as-a-Legal-Concept-2013.pdf>
Fields, D. (2020) Mind Reading and Mind Control Technologies Are Coming. We need to figure out the ethical implications before they arrive. In < https://blogs.scientificamerican.com/observations/mind-reading-and-mind-control-technologies-are-coming/>
Mirkes. R. (2019) Transhumanist Medicine: Can We Direct Its Power to the Service of Human Dignity? doi: 10.1177/0024363919838134. Disponível em < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6537347/>
Leitura Cerebral
Inteligência Artificial
Liberdade Cognitiva
Auto-Conhecimento
Filipe Barbosa Margarido[1]
Francieli Aparecida Pereira[2]
Carin Ávila dos Anjos[3]
Lidiane Cristina da Silva Galdino[4]
RESUMO
Esse trabalho explora o quadro de Transtorno de Personalidade Histriônica, desde seu surgimento e a formação desse conceito ao longo da história. Faremos um levantamento sobre os Transtornos de Personalidade mais especificamente o tipo histriônico. Para tanto, relataremos um caso clínico que ajuda a compreender os padrões que se repetem nesse transtorno. Por fim, apontaremos para a terapêutica e os caminhos que se abrem ao profissional da saúde no tratamento de pacientes acometidos por esse transtorno.
Palavras Chaves: Transtorno; Histriônico; Personalidade; Tratamento; Diagnóstico.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 13% das doenças no mundo são transtornos mentais, cada qual com manifestações específicas. Em geral, os transtornos mentais se definem por associações de pensamentos, percepções, emoções e comportamentos adversos que afetam o convívio com outras pessoas e consigo mesmo. Dentre estes, destacamos os transtornos de personalidade. De acordo com Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
"[...] um transtorno da personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo” (DSM-5, 2014, p. 645).
Os fatores determinantes, tanto para a saúde mental, quando para o desenvolvimento de transtornos mentais, abrangem características individuais, tais como a capacidade de controlar os pensamentos, as emoções, os comportamentos e as interações com os outros. Assim como, os fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais. Para aprofundar o tema, discorreremos sobre o Transtorno de Personalidade Histriônica (TPH), tema pouco explorado, mas que atinge boa parte da população.
Deste modo, essa pesquisa tem como objetivo verificar os aspectos e características relacionados ao transtorno, enfatizando seu diagnóstico. Buscamos facilitar o esclarecimento e a conscientização sobre a necessidade de identificação e diagnóstico correto dos indivíduos acometidos por este transtorno, evitando assim que sejam confundidos com outros transtornos de personalidade. Observamos que estes pacientes têm dificuldade em se identificar como portadoras de tal transtorno e, quando procuram ajuda profissional, seus sintomas acabam por se confundir com os de outros transtornos como a ansiedade, depressão ou até mesmo uso de drogas. Por sua vez, essa proximidade semiológica também dificulta o diagnóstico.
Historicamente, o transtorno de personalidade histriônica foi conhecido como “histeria”. A histeria foi entendida como um transtorno que abrange várias especificidades. A cada situação, se manifesta de uma maneira diferente. Outrora, esse transtorno era visto de maneira mais ampla, envolvendo neuroses, psicoses, catatonia, epilepsia e quadros degenerativos. A sintomatologia clássica da histeria apresentava sintomas tais como manifestações agudas, sintomas funcionais persistentes e sintomas viscerais (retenção intestinal ou urinária, cefaleias, entre outros). Podia se apresentar tanto na forma de comportamento, de comunicação, de vestimenta, quanto por meio de ocorrência de sintomas físicos, psíquicos e expressões corpóreas. Taís características chamaram a atenção de renomados nomes como o de Sigmund Freud (1856-1939) na área da psicanálise, como também de outros psicanalistas que se empenharam em compreender as manifestações histéricas.
Os termos histeria e transtorno psicossomático não foram listados no primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Este foi desenvolvido para catalogar e especificar os transtornos mentais e critérios associados para a definição de diagnósticos. O DSM tem sido editado diversas vezes ao longo de mais de 60 anos e tem se aprimorando em suas distinções e especificações em cada edição, visando ser um guia para os profissionais.
A partir da segunda edição do DSM o termo histeria foi substituído por neurose, neurose histérica e transtorno de personalidade histérica que equivalem no DSM-IV ao transtorno de personalidade histriônica. No ano de 1924 o termo histeria foi substituído pelo termo somatização por Wilhelm Stekel (1868-1940), e então a partir de 1938 foi aplicado como “doença psicossomática” e inserido como diagnóstico no DSM-III em 1980.
A extinção do termo histeria em 1980 a partir do DSM-III buscava ordenar categorias mais concretas por meio de fatores a serem qualificados para comprovar a existência ou inexistência de determinado distúrbio. Sua extinção ocorreu, pois foi considerado um termo inadequado pela grande diversidade de interpretações pelo peso difamatório, pelo mau uso do termo e sua banalização. Contudo, se tratando de histeria, ainda é difícil a diferenciação de suas características clínicas. Vários autores apresentam conceitos e caracterizações do termo histeria, e em sua maioria ligando-a aos transtornos da personalidade.
De acordo com Zimerman, ao referir-se sobre os transtornos de personalidade:
Sua conceituação abrange muitas modalidades e graus, tanto de traços caracterológicos quanto de quadros clínicos, além de ser tão plástica que, a rigor, pode-se dizer que está presente em todas as patologias. No entanto, o termo deve ficar restrito aos quadros sintomatológicos e de características que obedecem a uma estruturação própria e conservam uma série de pontos em comum(...) (2004, p.315).
Para maior esclarecimento dos sintomas específicos da histeria podemos citar certas características presentes e verificadas na histeria tais como: baixa tolerância à frustração; uso maciço de defesas repressivas; uso excessivo da sedução; a incumbência do corpo tanto no enaltecimento estético quanto na exteriorização conversiva e somatizadora; uma manifestação dramática e teatral fundamentada na assimilação sensitiva e pouco reflexiva; queixas intermináveis; uma exigência de conseguir o reconhecimento dos outros; inconstância afetiva; sofrimento ressaltado com perdas e separações; uma procura de provas de ser amado e desejado; uma capacidade de provocar sentimentos repulsivos nos outros, ocasionando maus tratos direcionados a si, para assim o paciente comprovar sua hipótese de vitimização e injustiça.
OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
Personalidade é um conceito de difícil definição, podendo ser explicado como a junção dos traços emocionais e comportamentais de um indivíduo. Um transtorno de personalidade surgiria quando esses traços são muito inflexíveis causando sofrimento tanto ao paciente, quanto aos seus próximos, trazendo dificuldade nos relacionamentos e comprometendo a vida do indivíduo em vários aspectos. Em geral, são transtornos em que a pessoa apresenta um padrão de pensamento e comportamento mal ajustado e inflexível. Estes transtornos são classificados em categorias que compartilham entre si características semelhantes.
As causas destes transtornos normalmente são diversas, mas podem estar relacionadas com a infância e a adolescência do indivíduo. E seu tratamento é considerado longo e difícil, pois quando se trata de alteração de personalidade, o indivíduo terá de mudar boa parte do seu modo de funcionamento para que o tratamento seja efetivo.
Tecnicamente os transtornos da personalidade são subdivido em três categorias: Grupo A (esquesitice e/ou desconfiança); Grupo B (Instabilidade e/ou irritação); Grupo C (ansiedade e/ou controle). No Grupo B notamos o Transtorno de Personalidade Histriônica.
Paranoide
Desconfiança constante
Sensível ás decepções e as críticas
Rancoroso, arrogante
Culpa os outros
Reivindicativo
Sente-se frequentemente prejudicado nas relações
Borderline
Relações pessoais muito instáveis;
Atos auto lesivos repetitivos;
Humor muito instável;
Impulsivo e explosivo;
Graves problemas de identidade;
Sentimentos intensos de vazio e aborrecimento crônico;
Ansiosa
Dificuldade em descontrair-se;
Preocupa-se facilmente;
Teme situações novas;
Atento a si próprio;
Muito sensível à rejeição;
Extremamente inseguro;
Esquizoide
Frio (Indiferente);
Distante, sem relações íntimas;
Esquisito (estranho);
Vive no seu próprio mundo;
Solitário (isola-se);
Não se emociona (imperturbável);
Sociopática
Irresponsável, inconsequente;
Frio, insensível;
Sem compaixão;
Agressivo, cruel;
Não sente culpa ou remorsos;
Não aprende com a experiência;
Mente de forma recorrente
Aproveita-se dos outros;
Anancástica / obesessiva
Rígido, metódico, minucioso;
Não tolera variações ou improvisações;
Perfeccionista e escrupuloso;
Muito convencional, segue rigorosamente as regras;
Controlador (dos outros e de si);
Indeciso;
Esquizotípica
Ideias e crenças estranhas e de auto referência;
Desconforto nas relações interpessoais;
Pensamento muito vago e excessivamente metafórico;
Aparência física excêntrica;
Histriônica
Dramatiza, é muito teatral;
Sugestionável e superficial;
Necessita de atenção;
Manipulador;
Infantil e pueril;
Erotiza situações não comumente erotizáveis;
Dependente
Depende extremamente do outro;
Necessita muito agradar;
Desamparado quando sozinho;
Sem iniciativa e sem energia;
Sem autonomia pessoal ;
Figura 1 Transtornos de personalidade segundo o CID-10 e o DSM-IV (DALGALARRONDO, 2008, p. 269)
TRANTORNO DE PERSONALIDADE HISTRIÔNICA
Buscando compreender o que é o Transtorno de Personalidade Histriônica, rememoramos aqui alguns indicadores de sua origem e sua presença ao longo da história. O Transtorno de Personalidade Histriônica tem sua fundação nas especificações clássicas da histeria. Segundo Ávila e Terra (2009) o termo histeria é antigo, muito difundido e vigora desde os primórdios da medicina na Grécia antiga, sendo usado para refletir aos comportamentos disfuncionais, às manifestações posteriormente nomeadas como doenças psicossomáticas ou transtornos de personalidade que acometiam, no geral, pacientes do sexo feminino. Ao longo dos anos, o termo recebeu várias designações, todas dotadas de significados e peculiaridades sendo essa manifestação investigada pela medicina, e também objeto de estudo da teologia, pesquisado também por sacerdotes e líderes espirituais.
Podemos perceber que o Transtorno de Personalidade Histriônica (TPH) é umas das ramificações da histeria, muito difundida no passado como sendo um transtorno que acometia somente pessoas do sexo feminino, porém podemos perceber que essa afirmação não se aplica os dias atuais, sendo os portadores dos distúrbios, tanto homens quanto mulheres. Os sintomas ligados ao transtorno de personalidade histriônica, segundo Dalgalarrondo (2008, p.272) caracterizam-se por:
Dramatização, teatralidade, expressão exagerada das emoções; sugestionabilidade aumentada, facilmente influenciado por outros ou pelas circunstâncias; afetividade superficial, pueril lábil; busca contínua de atenção e apreciação pelos outros, quer ser o centro das atenções; sedução inapropriada em aparências (vestimenta, maquiagem, etc.) e comportamento; erotização de situações não estritamente eróticas (consulta ao dentista, audiência com o juiz, etc.); infantilidade, tendência a reações infantis, pouca tolerância à frustração.
Pessoas diagnosticadas com TPH têm a necessidade de ser o centro das atenções, porém essa característica dos histriônicos também podem ser comuns em outros transtornos. O TPH diz respeito a pessoas excessivamente emotivas, hipersensíveis, exageradas, superficiais, emocionalmente instáveis, dramáticas, muito preocupadas com a estética. Exigem atenção toda para si, expressam as emoções de forma exagerada, choram ou sentem raiva por coisas mínimas, se vestem de forma extravagante e buscam sempre por elogios. Também se inclinam para a poligamia e desenvolvem padrões de sedução e de controle. Pessoas acometidas por esse transtorno se veem afetadas em sua vida social, profissional, e, do ponto de vista psicológico, demonstram um grande medo de sofrer perdas afetivas. Também demonstram uma maior tendência ao desenvolvimento de quadros de depressão. Grande parte dessas pessoas tem capacidade de viver bem perante a sociedade e no trabalho, porém aquelas com casos graves podem enfrentar problemas consideráveis em sua vida diária.
Para um maior entendimento sobre o diagnóstico, descreveremos um caso fictício de uma mulher com diagnostico de Transtorno de Personalidade Histriônica.
Maria, 37 anos, casada, mãe de dois filhos, buscou tratamento psicoterápico por indicação de família e amigos. Sua queixa principal era de que tinha problemas psicológicos devido ao afastamento do trabalho. Durante a segunda sessão sua queixa mudou, então ela atribuiu seu desconforto e sofrimento emocional ao casamento, onde o esposo, segundo ela, ingeria bebidas alcóolicas em grande quantidade nos finais de semana, acabando em agressões verbais e acusações de traição por parte dele, chegando a ocorrer agressão física dela ao esposo, ela relata que ameaçou-o com uma faca. Ela afirmava não sentir prazer em manter relações sexuais com o esposo, pois o mesmo cheirava muito mal. As queixas e lamentações de Maria era de incômodo a todos ao seu redor. Seus filhos se mostravam muito insatisfeitos com a situação, com sua irritabilidade e desânimo, com as agressões físicas com o marido e com seu choro constante. Seu humor era oscilante de sessão para sessão, afirmando que não era acolhida ou gratificada em nenhum lugar. Seu discurso era dramatizado e teatralizado, e, por várias vezes, se mostrava confusa e sem coerência. Quando alguma intervenção direta era realizada durante a sessão psicoterápica, ela parecia não escutar e iniciava um outro relato completamente distinto do qual estava narrando até então, tentando assim desviar o foco, dando a perceber que escondia algo ou que não conseguia falar diretamente sobre si. Ela constantemente relatava novos problemas e sintomas diferentes quando os antigos sintomas se mostravam estarem próximos de serem decifrados. Ela também demonstrava tentativas de manipulação do terapeuta.
No decorrer das sessões, Maria disse estar vivenciando uma "crise de ausência", disse que certo dia chegou à conclusão que queria e precisava ir embora de sua casa urgentemente. Então dirigiu seu carro pela cidade, estacionou em frente à igreja e saiu andando sem rumo. Em um primeiro momento, disse não se recordar de nada sobre o incidente. Já quando questionada uma segunda vez, disse lembrar-se de estacionar o carro, pensando e ir embora para bem longe enquanto caminhava. Ela trazia consigo sintomas depressivos, chegava aos atendimentos geralmente com expressão desanimada, apresentava-se sempre muito bem vestida, com roupas e acessórios chamativos e sempre muito bem maquiada e perfumada. Afirmava ver bichos em todos os lugares e que sabia não ser reais, embora sempre se assustasse ao vê-los. A cada sessão ela relatava sintomas bem diferentes um dos outros, mas geralmente sua sintomatologia eram muito semelhantes com os que se encontram na internet. No decorrer dos atendimentos ela dizia que os amigos do esposo flertavam com ela, relatou também ter tido dois romances extraconjugais, que não passaram de carícias, mas que para ela isso não era considerado traição. Posteriormente já afirmava que nunca conseguiria trair o esposo, mesmo sendo incentivada pelas amigas e pelas acusações do marido. Quando questionada sobre a descrição das crenças distorcidas de injustiça pelo marido e de suas relações extraconjugais, ela parava de falar sobre seus casos e fantasias sexuais, e dizia já estar significativamente melhor com a psicoterapia e que talvez fosse melhor pará-la.
Seu diagnóstico caracterizado por Transtorno de Personalidade Histriônica foi descoberto ao longo das sessões de psicoterápicas. Também se soube de outros três tratamentos anteriores, quando ela passava por um período de crise, ela realizava algumas sessões e logo em seguida apresentava uma melhora repentina e finalizava o atendimento. Conclui-se então com o caso que a partir do histórico da paciente e pelas características apresentadas, que pacientes com TPH tendem a repetir um padrão de comportamento muito semelhante, que estão em constante busca por gratificação e uma tentativa de manter o controle sobre todas as variáveis de sua vida. Podemos perceber, diante do caso relatado, uma necessidade da paciente de estar sempre em foco, de ser sempre o centro da atenção das atenções. Em psicoterapia, estava sempre mudando de assunto quando o assunto parecia estar próximo de uma profunda compreensão que pudesse ajuda-la. Em psicologia clínica sabemos que a mesma dinâmica que o paciente apresenta na sessão, muitas vezes também é apresentada de forma muito similar na família, no trabalho e nos diversos outros contextos vividos pelo paciente.
O Transtorno de Personalidade Histriônica pode ser confundido com os outros transtornos de personalidade, tais como o Transtorno Borderline, Transtorno de Personalidade Dependente e o Transtorno de Personalidade Antissocial, isso devido as semelhanças e as características que esses diagnósticos têm em comum. Saber disso é de extrema importância para o profissional durante o atendimento de uma pessoa acometida com um dos Transtorno de Personalidade, pois cada transtorno de personalidade, embora possam parecer semelhantes, todos eles têm um curso específico com prognósticos bem diferenciados. Para o correto diagnóstico desse transtorno é preciso que seja excluída a suspeita de uma situação médica geral e que o indivíduo evidencie danos consideráveis à sua vida funcional e social.
No Transtorno de Personalidade do tipo Histriônico, sobressai-se o as evidências sintomáticas que decorrem de traumas psíquicos, que representam o conflito entre ideias conscientes e inconscientes. Decorre desse embate, a origem dos sintomas e de pensamentos inoportunos que assolam o paciente. Em situações de grande estresse, ou durante conflitos numa contrariedade que o paciente passa, os histriônicos podem apresentar sintomas de conversão motora tais como ficar paralisados, cegos, com coceiras, sentindo-se anestesiados, entre outros sintomas de origem somática. Pacientes histriônicos podem também apresentar alucinações auditivas, ilusões mnêmicas que são descritas por Dalgalarrondo (2008, p.147) como “acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória”, e podem, inclusive ter a propensão a atos suicidas ou a encenações deste. Pacientes histriônicos também podem serem prejudicais à sua integridade física, pois a necessidade de atenção acaba levando-o a causar prejuízo ao próprio corpo, por exemplo, em casos de automutilação.
As causas exatas ou formação do transtorno não são totalmente claras, mas há diversas teorias sobre a sua gênese. Uma delas baseia-se na teoria de Freud, que explica que a histeria estaria ligada a fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Na compreensão proposta pelo psicanalista, compreende-se que os histéricos são acometidos de memórias reprimidas e as manifestações do sintoma equivalem a uma negociação entre um desejo sexual reprimido e a sua exteriorização consciente, restando, dessa forma, algo inaceitável em seu psiquismo que se converte em sintomas somáticos cada vez mais expressivos.
Uma outra possível causa do Transtorno de Personalidade Histriônica pode estar relacionada à abusos sexuais. Nesse ponto, Dalgalarrondo explica que “estudos recentes indicam forte relação entre ter sofrido abuso sexual na infância e transtornos da conduta na adolescência e transtornos da personalidade (borderline e histriônica em especial)[...]” (2008, p. 361).
De modo geral, a maioria das explicações sobre a gênese do transtorno histriônico, bem como os portadores dos transtornos semelhantes a esse, aponta para pacientes que possam ter se sentido usados e descartados pelo ato abusivo, tendo então a necessidade de buscar uma forma de atenção externa que possa suprir o sentimento de descaso e abandono que carregam. Ademais, também quando se trata de se vitimizarem, possam também, estar inconscientemente expondo essa fragilidade presente no sentimento de terem sido abusados.
As formas de tratamento do Transtorno de Personalidade Histriônica são principalmente as psicoterapias individuais. Em raros casos também pode ser realizada uma intervenção farmacológica prescrito por profissional habilitado. Importante ressaltar que a prescrição de medicamentos não visa à cura do TPH, mas sim o alívio dos sintomas recorrentes, como por exemplo, a ansiedade, a depressão, a agressividade, que ocorrem nesse transtorno. No processo psicoterapêutico, o profissional deve estar atento às dinâmicas que o paciente apresenta, tais como sua postura corporal, suas vestimentas, seu modo de reagir, suas atitudes, seu olhar, seus mecanismos inconscientes e principalmente seu discurso. Geralmente os pacientes histriônicos tomam rápida iniciativa de conversa, sobretudo nos atendimentos clínicos. São enérgicos, sugestivos e isso pode ser identificado através das primeiras avaliações.
O terapeuta pode buscar informações complementares sobre o paciente junto à familiares e seus próximos, solicitando-lhes relatos de como o paciente comporta na sua rotina diária. O terapeuta pode também fazer ao paciente os seguintes questionamentos sugeridos por Dalgalarrondo:
“Quando sente uma emoção, gosta de manter esse sentimento para si mesmo ou o expressa? Se impressiona muito com as coisas, por exemplo, com um filme, uma história, uma notícia? Quando falam uma coisa para você sugerindo algo, isso fica intensamente na sua cabeça? Gosta que prestem atenção em você? Aprecia estar no centro das atenções?” (2008, p.275).
O intuito do terapeuta com o tratamento é ajudar o paciente a tomar consciência dos seus atos e pensamentos, visando melhorar a sua qualidade de vida e também das pessoas próximas do paciente que serão afetadas indiretamente pelo comportamento do paciente histriônico.
Conclusão
A partir do desuso do termo histeria, sua redesignação recebeu novas nomenclaturas, dentre elas, há o Transtorno de Personalidade Histriônica, a qual se adaptou as transformações, aos avanços científicos da neurologia, da psicologia e da psiquiatria na atualidade. E isso ocorreu devido à adoção de novos sistemas classificatórios dos transtornos mentais. No entanto, a histeria permanece sendo um fenômeno que emerge entre os diversos transtornos mentais e que merece muita atenção na saúde e na psicopatologia geral.
Infelizmente, a maior dificuldade nos dias atuais em se tratando de diagnósticos de transtornos de personalidade e a busca de ajuda é o preconceito. Culturalmente, estamos inseridos em uma sociedade que classifica pessoas em rótulos. É fácil lidar com rótulos, devemos é aprender a lidar com pessoas, ou seja, aprender a ver a pessoa para além do diagnóstico.
As pessoas com Transtorno de Personalidade Histriônica devem ter acompanhamento psicoterápico frequentemente. No entanto, geralmente não permanecem em tratamento psicoterapêutico tempo suficiente para produzir alterações significativas. O tratamento objetiva auxiliar o indivíduo a descobrir as motivações e medos associados com os seus pensamentos e comportamentos, e a contribuir para que o paciente desenvolva padrões de pensamentos mais flexíveis e comportamentos mais adaptativos, além de ajudar a aprender a se relacionar com os outros de uma forma mais adequada e positiva. Desta maneira, podemos compreender que pessoas com este transtorno são totalmente capazes de viver bem socialmente e no trabalho por meio de análises periódicas de profissionais e principalmente de sua própria autoanálise. O tratamento psicoterápico possibilita que o paciente aprenda maneiras mais produtivas de lidar com as vicissitudes do seu devir.
Referências
AMERICAN PSYCHISTRIC ASSOCISTION; Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, Porto Alegre: ARTMED, 2014.
DALGALARRONDO, Paulo, Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais, ARTMED, 2008.
HUBER, Paulo Antunes de Moraes; MITTERER, Isabela Toscan; SEHNEM, Scheila Beatriz; Transtorno de Personalidade Histriônica ou Transtorno de humor bipolar? A dúvida na construção de uma hipótese diagnóstica. Joaçaba, 2014. Disponível em: <https://editora.unoesc.edu.br/index.php/acbs/article/viewFile/5644/pdf_71>. Acesso em: 29 de maio de 2018.
LAZSLO, Antônio Ávila; TERRA, João Ricardo, Histeria e Somatização: o que mudou? Disponível em http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v59n4/11.pdf. Acesso em 25 de Maio de 2.018.
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PEREIRA, Rosiane da Silva; Transtornos Dissociativo e Histriônico: contribuições da avaliação psicodiagnóstica. Ribeirão Preto, 2011. Disponível em: <http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/ses-22427>. Acesso em: 20 de maio de 2018.
ZIMERMAN, David Epelbaum. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica e Clínica – Uma Abordagem Didática. Porto Alegre: ARTMED, 1999.
[1]. Mestre em Psicologia Clínica pela USP. Graduado em Psicologia pela UNIA e em Filosofia pela UMESP. Coordenador do curso de Psicologia da Faculdade AJES. E-mail filipemargarido@hotmail.com
[2] Graduanda em Psicologia pela Faculdade Ajes. E-mail fr_ape@hotmail.com
[3] Graduanda em Psicologia pela Faculdade Ajes. E-mail avilacarinanjos@hotmail.com
[4] Graduada em Ciências Contábeis. E-mail lidianecristinadasilva3@hotmail.com
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Pitágoras de Samos foi um filósofo e matemático nascido na Jônia, na região de Anatólia, atualmente situada na Turquia. Ele nasceu por volta do ano 570-571 a.C., e sua biografia se encontra envolta em mistérios; talvez seja porque ele não tenha deixado nada escrito, pois grande parte de seus ensinamentos era transmitida por meio de tradições orais. O primeiro escrito que se tem sobre Pitágoras vem do filósofo grego Filolau de Crotona, que escreveu quase 100 anos após a morte de Pitágoras.
O nome Pitágoras significa Altar da Pítia ou o que foi anunciado pela Pítia. Conta a lenda que esse nome lhe foi dado porque sua mãe, ao passar pelo Monte Parnaso, na Grécia, havia consultado o Oráculo de Delfos e a Pítia – a sacerdotisa do Templo de Apolo –, que lhe dissera que seu filho seria grande para toda a humanidade.
Os conhecimentos de Pitágoras versam sobre geometria, aritmética, biologia, medicina, cosmologia, astronomia, música e poesia. A ele é atribuída a criação do nome Filosofia, e também do nome Matemática. Pitágoras foi contemporâneo de Buda (Sidarta Gautama), de Tales de Mileto, de Lao-Tsé e de Confúcio.
Acredita-se que ele tenha viajado pelo Egito, Pérsia, Síria, Fenícia, Babilônia e, talvez, até mesmo pela Índia. Em textos hindus, há registros referentes a um mestre grego chamado Yavanasharia, um sábio oriundo da região da Jônia. Há indícios também de que ele tenha estudado tanto com sacerdotes egípcios, quanto com sacerdotes hindus, e que também tenha tido contato com o judaísmo e com a Cabala. Além disso, há indicativos de que ele tenha tido contato também com o zoroastrismo, na Pérsia.
Pitágoras foi educado no mais elevado conhecimento de seu tempo. O filósofo é amplamente reconhecido por toda a tradição grega, tanto pelos pré-socráticos, quanto pelos pós-socráticos. Há muitas referências a sua figura, feitas por historiadores, pintores, filósofos e também por membros de diversas religiões.
Esse grande pensador deixou fortes marcas não somente nas religiões ou na filosofia, mas também nas ciências, na matemática, na geometria, na música e em várias outras áreas. Enfim, consideramos que Pitágoras deu início a um novo movimento de reestruturação da humanidade, sob padrões mais refinados de conhecimento e de sabedoria.
De acordo com a lenda, Pitágoras, certa feita, havia encontrado um Mago, o qual havia lhe ensinado muitas coisas; porém, não é possível sabermos quem teria sido esse mago. Pitágoras foi praticante do orfismo, uma tradição religiosa de devotos do poeta mítico Orfeu, tendo inclusive reformulado parte dessa tradição, haja vista que esta encontrava-se enfraquecida em seu tempo. O filósofo é considerado o fundador de uma escola iniciática denominada de Escola Pitagórica.
Parte 2:
A Pitágoras é creditada a fundação da Escola Pitagórica, que também era uma irmandade religiosa e filosófica. O intuito dessa escola era o de transmitir conhecimentos secretos e de alto desenvolvimento espiritual e filosófico, mas somente aos adeptos que já estivessem em condições de recebê-los. Porém, não era qualquer pessoa que poderia integrar essa escola, pois havia um rigoroso processo seletivo, nos quais muitos reprovavam. Os recém-iniciados também passavam por minuciosos e exigentes processos de aprendizagem.
Um dos descobrimentos atribuídos à Escola Pitagórica foi o da criação do sistema de notas musicais. Pitágoras teria realizado descoberta acerca dos intervalos musicais e sua relação com a aritmética, além disso, também teria descoberto – ou sido instruído – sobre o poder que o som e a música exercem na psique humana. Ao filósofo é atribuído o conceito de Harmonia Das Esferas, também denominado de Música Das Esferas. Sob essa teoria, tem-se que todo o universo possui um som, possui uma harmonia, e essa harmonia encontra-se presente em todos os corpos celestes e em todas as coisas, porém, é inaudível aos ouvidos humanos. Essa harmonia, essa música – que também pode ser expressa por meios matemáticos – têm condições de canalizar o conhecimento que existe em todo o universo e que se torna acessível a nós.
Nos círculos pitagóricos costumava ser ensinado sobre os padrões geométricos presentes em todas coisas e em toda a natureza; e essa geometria perfeita que existe na natureza pode ser descrita por meio de padrões numéricos e matemáticos. Para Pitágoras, a música também pode ser descrita por padrões numéricos e matemáticos. A música, nesse sentido, tem o poder de expressar a razão do universo.
Dentre as regras existentes para os membros da Escola Pitagórica, destacavam-se uma lealdade incondicional e um elevado desejo de partilha entre seus integrantes. Na irmandade, todos os bens deviam sempre ser comunitários. Faziam parte dos preceitos da escola diversas práticas ascéticas, preceitos específicos de alimentação e também uma severa obediência às hierarquias da irmandade. Todos os membros praticavam rituais de purificação da mente e do corpo; também é atribuída à Escola Pitagórica, a crença na teoria chamada de metempsicose. Nessa teoria, acredita-se que ocorre uma transmigração da alma após a morte, visando a estados mais elevados de purificação.
Parte 3:
Tradicionalmente atribuídos a Pitágoras, os Versos Áureos – ou Versos de Ouro – constituem um documento de valor incalculável; são considerados um dos principais documentos da tradição filosófica ocidental. Trata-se de exortações morais para aqueles que estão em busca da purificação e da perfeição do corpo e da alma.
Os Versos de Ouro nos oferece um caminho para a regeneração de cada indivíduo e, também, para toda a humanidade. Tais versos evidenciam quais eram os preceitos da Escola Pitagórica, como por exemplo, o compromisso de vida daqueles que nela eram iniciados.
Ao longo da história, os Versos de Ouro passaram por diversas traduções, revisões e readaptações, de modo que existem diversas opiniões sobre sua datação e também acerca de sua autenticidade. A cópia mais antiga de que se tem conhecimento vem de Hiérocles de Alexandria; dessa versão, foram feitas diversas traduções para outras línguas. A que é apresentada nesse texto também vem de Hiérocles, tendo sido posteriormente traduzida, por Nicholas Rowe, para a língua inglesa, sendo a versão que é estudada pela maior parte da tradição pitagórica. Contudo, é altamente aconselhável ao leitor deveras interessado que realize consultas também em outras traduções.
Podemos notar, ao longo desses versos, um juramento feito perante o próprio Pitágoras, por essa razão, aventamos a hipótese de Os Versos de Ouro não terem sido escritos por Pitágoras, mas sim por um de seus discípulos. Os Versos de Ouro levam esse nome porque pretendem transformar homens comuns em homens de ouro, mas não se trata de ouro ordinário ou substancial, mas sim de um ouro filosófico, que também pode ser compreendido como o ouro da sabedoria.
1. Primeiro adora os Deuses Imortais, como eles estão estabelecidos e ordenados pela Lei.
2. Reverencia o juramento e, em seguida, os heróis, cheios de bondade e luz.
3. Honra igualmente os gênios/espíritos terrestres, prestando-lhes o culto legalmente devido a eles.
4. Honra da mesma forma teus pais e aqueles mais parecidos com ti.
5. De todo o resto da humanidade, faze dele teu amigo que se distingue pela tua virtude.
6. Sempre dê ouvidos a suas suaves exortações e tome um exemplo de suas ações virtuosas e úteis.
7. Evita o máximo possível odiar teu amigo por uma pequena falha.
8. O poder é um vizinho próximo da necessidade.
9. Saiba que todas essas coisas são exatamente como eu lhes disse; e acostuma-te a superar e vencer estas paixões:
10. Primeiro a gula, indolência, sensualidade e raiva.
11. Não faças nada mau, nem na presença de outros nem em particular;
12. Mas acima de tudo, respeita a ti mesmo.
13. Em segundo lugar, observa a justiça em tuas ações e em tuas palavras.
14. E não te acostumes a comportar-te em qualquer coisa sem regra e sem razão.
15. Mas sempre faze esta reflexão, que é ordenado pelo destino que todos os homens morrerão.
16. E que os bens da fortuna/sorte são incertos; e que assim como eles podem ser adquiridos, eles podem ser igualmente perdidos.
17. Com relação a todas as calamidades que os homens sofrem pela fortuna divina,
18. Apoia teu lote com paciência, é o que pode ser, e nunca reclame.
19. Mas esforça-te para remediar isso.
20. E considera que o destino não envia a maior parte desses infortúnios para os homens bons.
21. Há muitos tipos de raciocínios entre os homens, bons e maus;
22. Não os admires com muita facilidade, nem os rejeites.
23. Mas, se as falsidades forem avançadas, ouve-as com brandura e arma-te com paciência.
24. Observa bem, em todas as ocasiões, o que dir-te-ei:--
25. Não deixes que qualquer homem, seja por suas palavras, seja por seus feitos, seduza-te.
26. Nem te atrevas a dizer ou fazer o que não é proveitoso para ti.
27. Consulta e delibera antes de agires, para que tu não possas cometer ações tolas.
28. Pois é a parte de um homem miserável falar e agir sem reflexão.
29. Mas faze aquilo que não te afligirá depois, nem te obrigue ao arrependimento.
30. Nunca faça nada que não entendes.
31. Mas aprende tudo o que deves saber e, com isso, conduzirás uma vida muito agradável.
32. De maneira alguma negligencia a saúde do teu corpo;
33. Mas dá-lhe bebida e comida em devida medida, e também o exercício de que ele precisa.
34. Agora por medida quero dizer o que não incomodará a ti.
35. Acostuma-te a um modo de vida que seja puro e decente sem luxo.
36. Evita todas as coisas que causarão inveja.
37. E não sejas pródigo fora de época, como alguém que não sabe o que é decente e honrado.
38. Nem sejas cobiçoso nem mesquinho; uma medida devida é excelente nessas coisas.
39. Somente faze as coisas que não podem machucar-te e delibera antes de fazê-las.
40. Nunca permitas que o sono feche tuas pálpebras, depois que tu foste para a cama,
41. Até que tenhas examinado todas as tuas ações do dia por tua razão.
42. Em que fiz errado? O que eu fiz? O que eu omiti que eu deveria ter feito?
43. Se neste exame descobrires que fizeste algo errado, reprova-te severamente por isso;
44. E fizeste algum bem, regozija-te.
45. Pratica completamente todas essas coisas; medita bem nelas; tu deves amá-las com todo o seu coração.
46. São estas que te colocarão no caminho da virtude divina.
47. Juro por quem transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado, a fonte da natureza, cuja causa é eterna.
48. Mas nunca comeces a colocar sua mão em qualquer trabalho, até que tenhas primeiro orado aos deuses para realizar o que tu vais começar.
49. Quando tu tornares esse hábito familiar para ti,
50. Conhecerás a constituição dos Deuses Imortais e dos homens.
51. Até que ponto os diferentes seres se estendem e o que os contém e os une.
52. Saberás também que, de acordo com a Lei, a natureza deste universo em tudo é semelhante a todas as coisas,
53. Para que então não espereis o que não deves esperar; e nada neste mundo será escondido de ti.
54. Também saberás que os homens atraem sobre si suas próprias desgraças voluntariamente e de livre escolha.
55. Infelizes são eles! Não veem nem compreendem que o seu bem está perto deles.
56. Poucos sabem como se livrar de seus infortúnios.
57. Tal é o destino que cega a humanidade e tira seus sentidos.
58. Como enormes cilindros, eles rolam para frente e para trás, e sempre oprimidos com inúmeros males.
59. Pois a contenda fatal, natural, persegue-os em toda parte, jogando-os para cima e para baixo; nem percebem isso.
60. Em vez de provocá-la e agitá-la, devem evitá-la cedendo.
61. Ó! Júpiter, nosso Pai! Se libertardes os homens de todos os males que os oprimem,
62. Mostrai a eles que tipo de gênio eles usam.
63. Mas toma coragem; a raça dos humanos é divina.
64. A natureza sagrada revela-lhes os mistérios mais ocultos.
65. Se ela te comunicar os seus segredos, executarás facilmente todas as coisas que eu te ordenei.
66. E pela cura de tua alma, livrarás ela de todos os males, de todas as aflições.
67. Mas deves se abster dos alimentos que proibimos nas purificações e na libertação da alma;
68. Faze uma distinção justa deles e examina bem todas as coisas.
69. Deixa-te sempre guiar e dirigir pelo entendimento que vem de cima, e que deve segurar as rédeas.
70. E quando, depois de ter te privado do teu corpo mortal, chegares ao mais puro éter,
71. Serás um deus imortal, incorruptível, e a morte não terá mais domínio sobre ti.
Referências:
Abbagnano, N. (2007) Dicionário de Filosofia (4 ed.) São Paulo. Martins Fontes
Aveline, C.C. Os Versos de Ouro de Pitágoras. Disponível em https://www.filosofiaesoterica.com/os-versos-ouro-pitagoras/
Rowe, Nicholas (1707). The Life of Pythagoras with His Golden Verses, Together with the Life of Hierocles and His Commentaries upon the Verses. London, 1906.
Schibli, Hermann S. (2002). Hierocles of Alexandria. Oxford University Press.
Youtube (2019). Os Versos de Ouro de Pitágoras. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=j3QOWgg22lY&t=2715s
Youtube (2019). Donald no País da Matemágica e O Número de Ouro. Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=j3QOWgg22lY&t=2715s
Wikipedia. (2019). Pitágoras. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Pit%C3%A1goras Acesso em 1 /03/2020
Wikipedia. (2019). Os versos de ouro de Pitágoras. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_versos_de_ouro_de_Pit%C3%A1goras Acesso em 1 /03/2020
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